No recent debate sobre acessibilidade e inclusão, um incidente em Salvador (BA) repercutiu nas redes sociais. Durante uma sessão de trabalho no Fórum 2 de Julho, o advogado Ives Bittencourt se deparou com uma cadeira exclusiva para pessoas gordas, o que o levou a questionar o posicionamento e a intenção por trás dessa iniciativa.
Um assento para a inclusão ou exclusão?
Ives Bittencourt, ao filmar a cadeira isolada em meio a assentos comuns, expressou sua revolta, classificando o ato de fornecer um único assento como uma manifestação de “gordofobia estrutural”. Para ele, o posicionamento da cadeira destacada reforça um estigma, pois a cadeira destinada a pessoas gordas é colocada em um local de evidência, enquanto as demais permanecem em uma configuração normal. “As cadeiras ditas como comuns estão aqui e a cadeira de uma pessoa gorda está separada. O gordo tem que ficar destacado”, criticou o advogado em seu vídeo.
A resposta do sistema judiciário
Após a repercussão do caso, Bittencourt foi contatado pela Justiça do Trabalho na Bahia, que alegou que a cadeira havia sido posicionada incorretamente e que já havia sido retirada do local. Em uma declaração feita pelo advogado, ele ressaltou a importância de não apenas fornecer um espaço, mas de garantir que esse espaço seja respeitado e acolhedor: “Não basta oferecer um espaço. É preciso respeitar o direito de existir sem constrangimento, sem ser reduzido a uma anomalia exposta no meio da sala”, afirmou.
O testemunho do advogado levanta questões mais amplas sobre a inclusão de pessoas gordas em ambientes públicos e a importância de tratar a acessibilidade como um direito fundamental, sem criar barreiras ou destacá-las como exceções.
Compromisso do Tribunal Regional do Trabalho
O Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT-5) se comprometeu a investigar a situação e programou uma visita ao Fórum 2 de Julho para avaliar eventuais barreiras à acessibilidade. Em nota, o TRT-5 informou que este é um dos primeiros órgãos públicos do Brasil a disponibilizar cadeiras de configurações maiores, com o intuito de atender à diversidade do público.
O compromisso da Justiça do Trabalho em melhorar a acessibilidade vem em um momento crucial, considerando que o Brasil tem avançado na discussão sobre inclusão, mas ainda enfrenta desafios significativos. O tribunal enfatizou que irá executar todas as medidas necessárias para garantir a boa recepção dos usuários em suas instalações.
A inclusão como direito
Esse episódio não é isolado e simboliza um campo de luta contínua por reconhecimento e respeito aos direitos das pessoas gordas. A discussão em torno de como as instituições públicas lidam com a inclusão e acessibilidade está cada vez mais em foco, e, eventos como este evidenciam que ainda há muito a se fazer.
A importância de criar um ambiente onde todos se sintam confortáveis e respeitados deve ser a prioridade. Investir em estruturas que atendem a todos, sem delimitar ou destacar pessoas por suas características físicas, é um passo importante para construir uma sociedade mais justa e inclusiva.
Reflexão sobre acessibilidade e gordofobia
Embora a ideia de uma cadeira exclusiva possa bem-intencionada, é crucial refletir sobre como isso se traduz na realidade do cotidiano das pessoas gordas. O que é oferecido como uma solução deve ser analisado criticamente para garantir que esteja promovendo inclusão de fato, e não reforçando estigmas e práticas de exclusão.
É necessário que o debate sobre acessibilidade ambiental se expanda, levando em conta a pluralidade dos corpos e a necessidade de serem respeitados em suas particularidades. Este caso no Fórum 2 de Julho serve como um chamado à ação para que todas os órgãos públicos revisem suas práticas e criem políticas que abranjam todos os cidadãos sem distinção.