Moradores e artistas de Lisboa realizaram protestos nesta semana em pontos turísticos e áreas centrais, como uma resposta à crescente crise de habitação e à gentrificação que transformou o bairro da Praça do Comércio. As manifestações criticam a expulsão de moradores tradicionais e a transformação da cidade em um polo voltado para o turismo de luxo.
Protesto de Bordalo II e crítica à gentrificação
Um dos artistas mais renomados de Portugal, Bordalo II, estendeu uma faixa na cidade criticando o processo de gentrificação que vem expulsando a população do centro de Lisboa. A faixa dizia: “Excelente oportunidade. Cidade de traça antiga, com ótima exposição solar todo o ano e recentemente remodelada com detalhes de luxo. Inserida numa zona premium da Península Ibérica, dispõe de vista deslumbrante sobre o rio Tejo e fácil acesso a restaurantes e comércio de luxo. Ideal para quem quer desfrutar de ambiente vibrante, cosmopolita e gentrificado. Uma oportunidade de sonho numa cidade onde a maioria nem pode sonhar em viver”.
Reação da prefeitura
A faixa foi removida por funcionários da prefeitura, que alegaram questões de ordenamento urbano. O artista postou a legenda da ação ressaltando a ironia do que chamou de “oportunidade de sonho” oferecida pelo mercado imobiliário na cidade.
Crise imobiliária e descaracterização do centro
De acordo com o Portugal Giro, Lisboa chegou a ter o aluguel mais caro da Europa, e as ruas próximas à Praça do Comércio, onde Bordalo II protestou, vêm sofrendo forte descaracterização. O comércio tradicional vem desaparecendo rapidamente, dando lugar às lojas de lembranças turísticas, como imãs de geladeira e aventais, voltadas exclusivamente para o turista.
A crise habitacional é resultado de uma série de fatores desde o pedido de ajuda financeira internacional ao país em 2011, que estimulou o aumento dos custos imobiliários e a especulação sobre o mercado de imóveis. Como retratado pela imprensa, a situação tem gerado preocupação entre moradores que veem suas comunidades sendo substituídas por atividades comerciais voltadas ao turismo de massa.
Impacto na vida urbana e no turismo
O crescimento da especulação imobiliária tem provocado a descaracterização da arquitetura tradicional e a expulsão de moradores de longa data. Segundo fontes locais, áreas próximas à Praça do Comércio sofrem uma rápida transformação, com lojas de souvenirs substituindo o comércio tradicional.
Apesar da tentativa de controle por parte das autoridades locais, a crise de habitação em Lisboa evidencia a dificuldade de equilibrar o crescimento econômico com a preservação da identidade cultural da cidade.
Reflexões e próximos passos
As manifestações reforçam a necessidade de políticas públicas que garantam habitação acessível e protejam o patrimônio histórico de Lisboa. Ainda não há previsão oficial de novas ações, mas a sociedade civil continua a pressionar por mudanças que priorizem moradores tradicionais e preservem a autenticidade da capital portuguesa.