O ativista e político Robert F. Kennedy Jr. causou alarme ao afirmar que “não devemos dar às pessoas negras o mesmo esquema de vacinação que aos brancos”, alegando diferenças no sistema imunológico, o que foi considerado por especialistas como racismo científico perigoso.
Declarações controversas e impacto na saúde pública
Em 2021, Kennedy afirmou que “as pessoas negras precisam de menos antígenos nas vacinas” e, recentemente, refrisou essa alegação durante um evento público, cenário que gerou preocupação devido à sua intenção de promover mudanças na agenda de imunizações nos Estados Unidos. Segundo o Washington Post, tais afirmações reforçam ideias prejudiciais, classificadas como racismo científico.
Especialistas alertam para os riscos do racismo científico nas vacinas
Joel Bervell, médico e especialista em desmistificação de mitos médicos, destacou que “não há bases científicas para diferenças raciais na imunidade ou na necessidade de certos esquemas vacinais”. Ele explicou que “raça é uma construção social sem relação com diferenças genéticas que justifiquem esquemas vacunais diferenciados”.
Para a médica e defensora da equidade racial Oni Blackstock, tais afirmações podem aprofundar a desconfiança da comunidade negra na assistência médica, alimentando o racismo estrutural já presente no setor de saúde.
Consequências do racismo científico na medicina
Especialistas explicam que a crença em diferenças biológicas entre raças tem raízes históricas e resultados devastadores, incluindo a submedicação de negros, negação de dor e altas taxas de mortalidade. Um exemplo clássico é a falsa ideia de que negros possuem rins mais funcionais, o que dificultou o acesso a tratamentos como transplantes de rim.
A historiadora médica Blackstock ressaltou que tais mitos remotos ou atuais influenciam direta e negativamente a forma como populações negras são tratadas no sistema de saúde.
Repercussões e posicionamentos institucionais
Organizações como a Associação Americana de Medicina (AMA) e a Academia Americana de Pediatria (AAP) condenaram veementemente as declarações de Kennedy e estão tomando medidas legais contra suas ações de alterar a política de vacinação contra a COVID-19. Algumas dessas entidades apresentaram ações judiciais para proteger a integridade do calendário vacinal.
Kennedy, conhecido por suas posições antivacina e por promover desinformação, foi questionado durante seu processo de confirmação no Senado sobre comentários considerados racialmente tendenciosos. Ele afirmou que “estudos indicam que as pessoas negras necessitam de menos antígenos na vacinação”, uma informação desacreditada por especialistas.
Risco de disseminação de desinformação e o papel da confiança
Segundo Blackstock, a propagação de ideias racistas e falsas sobre vacinas alimenta a hesitação vacinal, especialmente entre comunidades marginalizadas, dificultando o combate a doenças imunopreveníveis. Ela reforça a necessidade de líderes e profissionais de saúde atuarem com responsabilidade, promovendo a ciência e a equidade.
“Comentários assim reforçam narrativas de racismo que possuem efeitos reais e danosos na saúde da população negra”, afirmou Blackstock. Ela também alertou que esse tipo de discurso volta a ecoar mensagens de figuras políticas como Donald Trump, que propagaram ideias de eugenia e superioridade racial.
O desafio de descontruir o racismo na medicina
Especialistas concluem que combater a desinformação e o racismo científico na saúde é essencial para garantir uma assistência justa e eficaz para todos. Direitos civis, história e ciência indicam que diferenças genéticas raciais são uma ilusão, e que estratégias de saúde devem respeitar a diversidade como uma construção social, não uma realidade biológica.
Legalmente e moralmente, é urgente que as autoridades e a sociedade mantenham o foco na promoção de um sistema de saúde que privilegie a equidade, derrubando mitos e desinformações prejudiciais, principalmente aquelas que se disfarçam de “ciência”.