No 80º aniversário dos bombardeios atômicos no Japão, o arcebispo de Chicago, cardeal Blaise Joseph Cupich, celebrou uma missa em Nagasaki com um grupo de líderes religiosos estadunidenses. A cerimônia marca um momento de reflexão sobre a decisão dos Estados Unidos de lançar bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial. Cupich classificou essa ação como “profundamente errônea”, ressaltando que tal decisão violava princípios fundamentais do direito internacional e da doutrina moral católica.
A barbárie da Segunda Guerra Mundial
Na homilia, o cardeal Cupich refletiu sobre o uso das armas nucleares, sublinhando que, com a morte de milhares de civis, a distinção entre combatentes e não combatentes foi severamente comprometida. “Infelizmente, durante a barbárie da Segunda Guerra Mundial, a insistência tradicional na imunidade dos não combatentes ruiu”, lamentou. Ele criticou a normalização de ataques a civis promovida pela lógica da “guerra total”, que culminou nos bombardeios de Hiroshima em 6 de agosto e Nagasaki em 9 de agosto de 1945.
Cupich também fez menção aos escritos do jesuíta John Ford, que, em 1944, já advertia sobre a moralidade dos bombardeios de grandes cidades como inaceitável. A crítica de Ford, segundo o cardeal, ainda ecoa na atualidade, especialmente com o debate contínuo sobre a dissuasão nuclear.
Mudança na opinião pública nos EUA
O cardeal observou que a opinião pública nos Estados Unidos tem se modificado ao longo dos anos, com uma maioria agora desaprovando os ataques a Hiroshima e Nagasaki. Contudo, ele expressou preocupação ao notar que muitos cidadãos ainda defendem o uso de armas nucleares em situações de conflito hipotéticas, se isso significar salvar vidas de soldados americanos.
Uma pesquisa citada por Cupich indicou que essa disposição para aceitar a morte de civis estrangeiros permanece não tão distante de 1945. Para ele, isso sugere a necessidade crucial de redefinir a tradição da Igreja em relação à “guerra justa”, enfatizando que essa visão deve estar fundamentada em princípios de moralidade e solidariedade, em vez de considerações estratégicas.
A ilusão da dissuasão nuclear
O cardeal continuou sua reflexão, afirmando que “o uso de ameaças e a dissuasão nuclear nunca poderão levar a uma coexistência pacífica entre as nações”. Ele advertiu que a ilusão de “paz autêntica” gerada por impasses armados é frágil, como evidenciado pelas tensões atuais envolvendo países como Irã e Coreia do Norte.
A responsabilidade dos Estados Unidos
Como os Estados Unidos permanecem como uma das principais potências nucleares do mundo, Cupich enfatizou a responsabilidade singular de seu país em liderar a construção de uma ordem internacional fundamentada em alternativas nucleares. Ele exortou um compromisso renovado com a redução das armas nucleares e rejeitou o neoisolacionismo.
O arcebispo prestou ainda homenagem aos Hibakusha — os sobreviventes dos bombardeios — cujas experiências e histórias têm sido fundamentais na luta pela paz. “A humanidade precisa se comprometer a acabar com a corrida armamentista nuclear, uma corrida que não pode ser vencida, mas que pode custar a vida de milhões,” concluiu Cupich.
O evento em Nagasaki não apenas recordou os horrores do passado, mas também lançou um olhar esperançoso para o futuro, ressaltando a importância do diálogo e da reconciliação. A mensagem de paz e reflexão do cardeal Cupich ressoa com a necessidade urgente de construir um mundo livre do medo nuclear.
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