A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro trouxe à tona uma intensa disputa familiar pelo protagonismo político dentro da direita brasileira. Enquanto aliados da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro levantam sua candidatura como sucessora natural, os filhos do ex-presidente, especialmente o senador Flávio Bolsonaro, resistem a essa ideia e buscam consolidar suas próprias posições como interlocutores de Jair. A situação não apenas evidencia rivalidades familiares, mas também reflete a complexidade das relações de poder no cenário político atual.
A nova dinâmica familiar em Brasília
No último dia 6, o ministro Alexandre de Moraes autorizou visitas de filhos e netos a Jair Bolsonaro sem a necessidade de autorização judicial, o que reequilibrou, ao menos simbolicamente, o espaço que Flávio ocupa na dinâmica familiar. O senador, que pretende se estabelecer como a principal voz da família em Brasília, já recebeu apoio de antigos aliados do pai, como Sergio Moro e Hamilton Mourão, para criticar a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e a suposta perseguição política contra o ex-presidente.
Flávio e Michelle: dois caminhos diferentes
Ao ser indagado sobre a possibilidade de que Michelle ocupe um papel de destaque na ausência de Jair, Flávio não hesitou em afirmar que a madrasta não possui um perfil apropriado para a função. “Ela não fala muito com a imprensa, não gosta de dar entrevistas. Todos os parlamentares que estão aqui podem ser porta-vozes”, declarou o senador, revelando um certo desprezo pela potencial liderança política da ex-primeira-dama.
Enquanto Flávio se posiciona como um articulador político na Câmara, Eduardo Bolsonaro, por sua vez, tenta fazer uso de sua influência em esferas internacionais, buscando apoio nos Estados Unidos para defender as ações de seu pai perante as autoridades brasileiras. Ao mesmo tempo, os vereadores Carlos Bolsonaro e Jair Renan mantêm uma postura mais reservada, demonstrando um distanciamento em comparação ao ativismo de Flávio e Eduardo.
Divisões, desafios e alianças
A divisão entre os membros da família Bolsonaro ilustra não apenas questões pessoais, mas também estratégicas. Embora Michelle possa contar com o apoio de setores da base bolsonarista, Flávio se destaca como a figura com maior potencial de articulação institucional, recebendo respaldo de importantes aliados do Congresso. “O senador Flávio Bolsonaro, na ausência do Eduardo, que espero ser momentânea, assume a articulação da família no Congresso Nacional”, comentou o senador Carlos Portinho (PL-RJ), evidenciando a importância do filho mais velho na estrutura política que se forma.
Em contrapartida, a ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF) elogiou a importância de Michelle, destacando-a como uma voz forte da direita, capaz de enfrentar injustiças e perseguições. “Ela se tornou voz de um movimento de direita forte e determinado”, afirmou, sugerindo que seu papel vai além dos laços familiares. A deputada Bia Kicis (PL-DF) também apoiou a ideia de que Michelle é essencial para influenciar e representar o ex-presidente diante das adversidades que ele enfrenta.
O futuro político de Michelle
Desde a prisão de seu marido, Michelle manteve uma agenda ativa de viagens, participando de eventos com apoiadores em diferentes estados, como Pará e Paraíba. A ex-primeira-dama parece estar se projetando politicamente e, segundo rumores, pode ser candidata ao Senado ou até mesmo integrar uma chapa presidencial nas eleições de 2026. Sua crescente visibilidade, juntamente com o forte apoio que recebeu, pode posicioná-la como uma figura de relevância futura no cenário político brasileiro.
Enquanto a disputa pelo espaço político na família Bolsonaro se intensifica, fica claro que a interação entre essas dinâmicas familiares e as alianças políticas será determinante para o futuro da direita no Brasil. Com Flávio tentando afirmar sua liderança e Michelle se consolidando como uma voz respeitável, o desenrolar dos eventos pode mudar o rumo do cenário político nacional, especialmente considerando as próximas eleições.