No último dia 6, os Estados Unidos implementaram uma tarifa de importação de 50% sobre produtos brasileiros, colocando o Brasil na posição de pagar a maior taxa do mundo para acessar o mercado norte-americano. O impacto é sentido de forma aguda no setor têxtil da região de Piracicaba, no interior de São Paulo, que reúne mais de 1,5 mil empresas em cidades como Nova Odessa, Santa Bárbara d’Oeste e Americana. Com essa medida, há um temor crescente sobre a perda de competitividade e uma onda de cortes de investimentos.
Efeitos imediatos do tarifaço
No município de Nova Odessa, por exemplo, uma indústria de tecidos para colchões, que pertence a uma multinacional belga, já começou a sentir os efeitos adversos dessa nova taxação. De acordo com o gerente geral da unidade, Lars Müller, a empresa perdeu a oportunidade de abastecer o mercado americano e, como consequência, o país vizinho, Argentina, pode se tornar o novo fornecedor, agravando ainda mais a situação. “A Argentina é um país que, aparentemente, está se alinhando mais com os Estados Unidos. Isso pode gerar um cenário onde a produção adicional necessária será feita lá, onde não há a taxação”, explica.
Impactos nas contratações e no emprego
As consequências do tarifaço são amplas e refletem diretamente nas contratações e na geração de empregos na região. O Sindicato das Indústrias de Tecelagem (Sinditec) da região, representado por Leonardo de Sant’anna, destaca que a medida pode provocar um efeito dominó. Muitas fábricas do polo têxtil fornecem itens manufaturados para exportadores brasileiros, e a insuficiência de competitividade pode reduzir ainda mais o volume de negócios. “Os tecidos que fornecemos ao setor calçadista, por exemplo, são essenciais. O impacto será sequencial na cadeia”, afirma.
A competitividade internacional em risco
Com a imposição da tarifa, o Brasil perde sua competitividade para países como Vietnã, Malásia e Camboja, que têm taxas muito menores, em torno de 20%. Essa diferença cria um cenário em que os exportadores brasileiros podem, inevitavelmente, buscar diversificar seus mercados, embora essa transição não seja fácil, especialmente no setor têxtil, que demanda produtos personalizados.
Resultados alarmantes para investimentos
Um estudo recente sobre a produção têxtil na região mostrou que foram produzidas 335 mil toneladas de artigos têxteis, com 112 mil toneladas oriundas de cidades do polo. No entanto, os investimentos projetados para exportação devem sofrer um forte impacto, e a perspectiva é de retração. A mesma empresa belga que investiu cerca de R$ 68 milhões em Nova Odessa já sinalizou que o tarifaço torna inviável a ampliação de investimentos planejados. “Poderíamos estar investindo até R$ 80 milhões, mas diante dessas novas tarifas, isso não faz mais sentido”, desabafa Müller.
Possíveis exceções e futuro incerto
O decreto assinado pelo presidente dos Estados Unidos prevê uma lista de exceções que inclui suco de laranja, aeronaves civis, petróleo e outros itens, mas não garante nem de longe a segurança e a estabilidade que o setor têxtil tanto necessita. Enquanto empresas tentam se adaptar a essas novas realidades comerciais, o futuro do polo têxtil da região de Piracicaba permanece incerto, e os riscos de um efeito cascata de consequências econômicas são claros.
A visibilidade e a importância do setor têxtil na economia local ressaltam a necessidade de ações efetivas por parte do governo brasileiro. O debate sobre políticas comerciais mais justas e favoráveis ao País se torna cada vez mais urgente, pois o tarifaço do Trump não é apenas uma questão de taxa, mas reflete um cenário de competição global em um mercado instável e desafiador.
Com as bolsas de emprego em risco e uma produção ameaçada, o impacto do tarifaço se estende além das fronteiras do Brasil, envolvendo economias locais e a vida de milhares de trabalhadores. Assim, o setor têxtil da região de Campinas enfrenta um futuro desafiador pela frente, clamando por apoio e soluções eficazes para resgatar a competitividade prevista anteriormente.