A partir desta quarta-feira (6), entra em vigor a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, afetando diretamente os pequenos exportadores do país. Empresas de todos os portes, especialmente as de menor margem de lucro, já sentem os efeitos da medida, que ameaça reduzir volumes de vendas e aumentar a insegurança do setor.
Impacto nas micro e pequenas empresas brasileiras
Segundo dados do Sebrae, micro e pequenas empresas representam 40% das exportadoras no Brasil, movimentando cerca de US$ 2,6 bilhões por ano. Com a nova tarifa, muitas dessas empresas enfrentam pedidos suspensos, negociações travadas e clientes que aguardam uma definição antes de fechar negócios.
Em Vinhedo (SP), Gustavo Aquino, da empresa Sabor das Índias, já percebeu os efeitos antes mesmo da implementação oficial da tarifa. Um de seus principais clientes americanos suspendeu encomendas, levando a uma redução no volume de compras, adiamento de investimentos e congelamento de contratações. A empresa produz molhos e chutneys com identidade brasileira e enviou 17,3% do volume de vendas no primeiro semestre para os EUA.
Medidas de reequilíbrio e estratégias de resiliência
Reajuste de preços e renegociação
Gustavo já começou a renegociar valores e pensa em lançar embalagens menores, além de compartilhar envios com outros fabricantes para reduzir custos. Raquel Meirelles, produtora de cafés especiais, avalia redirecionar parte da produção para outros mercados, embora saiba que isso encarecerá o produto final.
Raquel, que exporta cerca de 500 sacas de café por ano para os EUA, explica que mudanças na rota de exportação aumentam os custos e que vender cafés especiais como commodities representa prejuízo na margem de lucro.
Diversificação de mercados e fortalecimento da marca
Nelson Silva, fundador da marca de moda praia BANNANNA, trabalha para diversificar mercados, embora reconheça que abrir novos canais de venda é trabalhoso e demanda tempo e recursos. De acordo com ele, mais da metade das vendas internacionais da marca é feita para os EUA via e-commerce.
Resposta do setor e perspectivas do governo
Apesar do impacto previsto, alguns agentes defendem a busca por alternativas no mercado interno e o fortalecimento de negociações diplomáticas. Sérgio Lange, produtor rural em Minas Gerais, afirma que o país pode mirar menos nos EUA e mais no mercado doméstico, o que pode tornar os produtos brasileiros mais acessíveis internamente.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, anunciou que o governo possui um plano de suporte para as empresas afetadas. Entre as ações estão negociações para reverter as tarifas, busca por novos mercados e apoio financeiro por meio do programa “Acredita Exportação”, que devolve até 3% em créditos tributários para micro e pequenas empresas exportadoras.
Necessidade de negociações diplomáticas e apoio às empresas
Especialistas alertam que o impacto será particularmente severo para micro e pequenas empresas, que possuem menor capacidade de resistência a choques externos. Segundo a economista Alessandra Ribeiro, essas empresas dependem de apoio governamental e de associações para se adaptarem às mudanças.
Na tentativa de evitar danos irreparáveis, empresários e representantes do governo torcem por negociações diplomáticas, acreditando que uma solução negociada pode evitar perdas maiores. Raquel Meirelles reforça a importância da relação com o mercado americano, apontando que “promover o diálogo é fundamental para que os negócios continuem prosperando.”
Estima-se que o setor ainda tenha tempo para se reorganizar, mas o cenário exige atenção contínua às políticas comerciais e estratégias de diversificação. O futuro das exportações brasileiras, especialmente das micro e pequenas empresas, dependerá da capacidade de adaptação diante desse novo cenário de tarifação.