Com a previsão de entrada em vigor de um novo imposto de importação de 50% pelos Estados Unidos nesta quarta-feira (6), os setores mais afetados, como café e pescados, permanecem na expectativa de ações governamentais para reduzir prejuízos. Os importadores de café, por exemplo, adotaram uma estratégia de postergar embarques e aumentar estoques, enquanto aguardam possíveis medidas de suporte.
Impacto do tarifaço no setor de café e expectativas de isenção
O Brasil é responsável por 33% das importações de café nos EUA, o que leva a uma esperança de que o produto possa ser isento da tarifa. Segundo Márcio Ferreira, presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), “é difícil mensurar o prejuízo real, quando estamos trabalhando para não sermos tarifados ou para termos a tarifa igualada à de outros países, como o Vietnã”.
O setor também arca com os custos de atrasos de embarque, incluindo despesas de estocagem e a queda no valor de mercado, já que os contratos futuros na Bolsa de Nova York operam com deságio. Ferreira explicou que “o atraso gera prejuízo financeiro aos exportadores, que precisam estocar o produto enquanto buscam novas alternativas de mercado”.
Medidas governamentais e estratégias de diversificação
O governo avalia ações para apoiar setores prejudicados pelo tarifaço, incluindo linhas de crédito, compras governamentais e o incentivo à busca por novos mercados — estratégia que foi reforçada na reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin e demais ministros, na segunda-feira.
Segundo Ferreira, durante o encontro, prevaleceu a ideia de diversificar os mercados de exportação, pois não é viável deslocar a produção de café devido à alta do custo de reposição e ao estoque já ajustado à demanda interna. Além disso, o setor pede a ampliação do apoio financeiro para estocar o produto, chegando a solicitar um empréstimo com juros subsidiados de até 5%. “Queremos que o governo nos ajude a industrializar, classificar e congelar o café, dando tempo para buscar novas alternativas de mercado”, afirma Ferreira.
Pescados e outras commodities: desafios e frustrações
O setor de pescados, liderado por Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), classificou a reunião como frustrante, uma vez que não foram apresentadas propostas concretas de compra ou medidas mitigatórias. Lobo destacou que a solução de buscar novos mercados é rotina e leva tempo, dificultando a operação de captura e exportação neste período crítico, pois a oferta brasileira de peixe já está ajustada à demanda domesticada.
Ele também alertou que a ausência de ações imediatas pode levar ao desperdício de capturas atuais, que estão sendo direcionadas ao mercado americano, e que a falta de tempo para planejar pode causar perdas irreversíveis.
Outros impactos e perspectivas futuras
Para amenizar os prejuízos, Ferreira sugeriu a ampliação do Reintegra, programa que devolve valores tributários às exportadoras, de 2% para até 3%. Além disso, o setor de pescados busca um financiamento de R$ 800 milhões para manter estoques e garantir a continuidade das operações enquanto tentam abrir novos mercados na Ásia e Europa, mesmo que essa transição seja lenta e incerta.
De acordo com Lobo, “precisamos de apoio financeiro para estocar e industrializar, e assim, ganhar tempo para buscar soluções de mercado”. Sem essa ajuda, há risco de a produção de pescado brasileira ficar prejudicada e de o mercado interno ser afetado por excesso de oferta, o que pode reduzir preços e afetar a operação de embarcações.
Consequências e alternativas frente ao tarifão
O efeito do tarifaço também deve concentrar as exportações brasileiras em produtos primários, com impacto na composição do comércio exterior, conforme aponta Ferreira. Caso os produtos destinados aos EUA fiquem no mercado interno ou sejam redirecionados para outros destinos, a oferta excessiva pode causar queda de preços e prejudicar a indústria.
Além disso, o setor reforça o pedido por ajustes fiscais, como a ampliação do Reintegra, para compensar os custos adicionais gerados pelo tarifão, que, segundo Ferreira, já coloca em risco a viabilidade de continuar operando nos mercados internacionais durante esse período de transição.
Para mais detalhes sobre as ações do governo e as medidas tomadas pelos setores afetados, acesse esta matéria.