Em um momento marcante de reflexão e esperança, a nova torre da Catedral de Urakami, em Nagasaki, ganhou um sino que tocará suas primeiras badaladas precisamente às 11h04 do dia 9 de agosto, ocasião em que, em 1945, a bomba atômica devastou a cidade. O gesto simboliza um pedido de perdão e reconciliação, segundo o arcebispo de Nagasaki.
Com a cidade devastada pela explosão, a antiga Catedral de Urakami perdeu um de seus sinos na tragédia. Depois de décadas, católicos estadunidenses se uniram para arrecadar fundos e reconstruir esse símbolo, entregando-o à catedral. “Esse novo sino, instalado na torre vazia, é um lembrete das vítimas e um clamor pela paz”, afirma Dom Peter Michiaki Nakamura, arcebispo de Nagasaki.
O som do sino como símbolo de esperança
O novo sino representa não apenas a memória das vítimas do ataque, mas a construção de um futuro pacífico. “Espero que, sempre que o sino tocar, as pessoas lembrem-se do nosso passado e se comprometam a construir a paz”, disse Nakamura, enfatizando 2025 como o “ano da esperança”. Este ano marcará o 80º aniversário do fim da guerra e da catástrofe atômica, uma oportunidade de refletir sobre a prevenção de conflitos em todo o mundo.
A Diocese de Nagasaki, em parceria com dioceses nos Estados Unidos, busca promover um mundo livre de armas nucleares, reforçando a importância de relações interpessoais e diálogo como segredos para evitar que guerras iniciem. “Muitas pessoas pensam que a guerra é errada, mas se algum país atacasse o Japão, muitos considerariam a guerra como inevitável. Por isso, é crucial construir laços de cooperação”, disse o arcebispo.
Desafios contemporâneos para a paz
À luz dessa história, a Conferência Episcopal Japonesa recentemente publicou um documento que questiona: “O Japão realmente está no caminho da paz hoje?”. A crítica se refere ao aumento de armamentos e à militarização crescente no país, especialmente em Okinawa. Nakamura teme que a juventude não compreenda a gravidade da guerra, mesmo com a educação para a paz sendo ensinada nas escolas, onde esta é muitas vezes tratada de forma superficial.
O arcebispo alerta que o ensino nas escolas pode inadvertidamente promover uma visão positiva sobre a defesa militar, ao invés de incentivar a busca pela paz. “A Igreja tem o dever de testemunhar o amor e a reconciliação”, afirma. O contexto atual, com crescente competitividade e materialismo, pode alimentar a dissenção que leva a conflitos, e é preciso atentar para isso.
Um chamado à ação
Refletindo sobre o papel da Igreja durante a Segunda Guerra Mundial, Nakamura observa que, embora a Igreja Católica Japonesa enfrentasse momentos difíceis e ataques, ela falhou em ser uma voz de protesto suficientemente forte. “A Conferência Episcopal hoje pode e deve ser uma defensora da paz e da justiça”, enfatiza, reforçando que o apoio vindo de líderes globais, como os Papas, tem trazido uma nova esperança ao povo japonês.
O sino da Catedral de Urakami tocará não só como um toque grave que recorda a história, mas como um chamado para um compromisso renovado com a paz e a reconciliação. Enquanto a cidade de Nagasaki continua se reconstruindo, a mensagem de perdão e esperança se torna cada vez mais urgente e necessária.
A resiliência e a vontade de um futuro pacífico não dependem apenas da história, mas de cada um de nós fazer valer a paz em nossas ações diárias. O novo sino que ecoará na catedral servirá como um lembrete constante: “A paz deve ser mais que um desejo; deve ser uma prática diária”.
*Fonte: Agência Fides