As recentes sobretaxas aplicadas por países como Índia e Estados Unidos em importações de petróleo russo e outros produtos preocupam o Brasil. Com a Índia sofrendo uma sobretaxa de 25%, os EUA elevam essa cobrança para 50%, alegando que o país financia a máquina de guerra da Rússia, o que pode afetar os custos de combustíveis e fertilizantes brasileiros.
Risco de alta no preço do diesel na bomba
Especialistas alertam para a possibilidade de aumento no preço do diesel no Brasil devido à possível redução das importações de diesel russo, que atualmente representam cerca de 70% do volume importado pelo país. Pedro Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), explica que o diesel russo, mais barato por causa das sanções, ajuda a manter os preços baixos aqui.
“Sem o diesel russo, é bem provável que o preço suba aqui”, avalia Rodrigues. Além disso, a alta tarifa nos EUA pode elevar os custos de importação e pressionar ainda mais o preço final na bomba, reforça o ex-diretor do Banco Mundial, Braga, destacando que a mudança de fornecedor não teria um impacto dramático, mas contribuiria para um aumento nos custos.
Alternativas para o Brasil e a dependência de fertilizantes russos
Para fugir do impacto das sobretaxas, uma possível estratégia seria aumentar as importações de diesel dos Estados Unidos. No entanto, essa medida traz sua própria pressão de custos. Além disso, o Brasil depende bastante de fertilizantes russos, que representam uma grande parcela da compra internacional. Isso tem levado o setor de agronegócios a alertar o governo para a necessidade de diversificar fornecedores, ou até mesmo pensar na instalação de fábricas nacionais de fertilizantes.
Lia Valls, especialista em economia, destaca que o Brasil poderia negociar com países como Canadá e Índia, embora o processo seja demorado. “A dependência de fertilizantes russos é maior, e a criação de unidades nacionais poderia reduzir essa vulnerabilidade”, afirma.
Consequências das tarifas americanas e impacto comercial
Outro fator que preocupa empresários é a possibilidade de as tarifas adicionais afetarem exportações brasileiras, especialmente o setor moveleiro para os EUA. O aumento de tarifas pode gerar impacto antes mesmo da implementação oficial, como avalia Pedro Rodrigues.
Segundo ele, a crise reforça a ideia de que as ações contra o Brasil, como as tarifas, são ideológicas e não embasadas em fundamentos econômicos. “Todas as medidas adotadas podem gerar dificuldades adicionais para o comércio brasileiro, sem justificativa clara do ponto de vista de mercado”, explica.
Perspectivas futuras e possíveis medidas
Especialistas sugerem que o governo brasileiro deve acompanhar de perto os desdobramentos dessas tarifas e buscar alternativas para reduzir a vulnerabilidade do setor de energia e fertilizantes. A criação de uma fábrica de fertilizantes no Brasil, embora demandando tempo e recursos, aparece como uma estratégia de longo prazo para diminuir a dependência externa.
Por ora, o mercado brasileiro acompanha com preocupação a evolução dessas tarifas, que podem impactar preços e abastecimento, reforçando a importância de ações estratégicas para mitigar riscos futuros.