A Festa do Peão de Barretos, um dos maiores eventos do calendário brasileiro, não apenas reúne amantes da música sertaneja e das montarias, mas também é um verdadeiro repositório de tradições que moldaram a identidade sertaneja do país ao longo de seus 70 anos de história. Desde 1955, a festa preserva costumes que foram herdados dos peões de boiadeiro e continuam a influenciar novas gerações. Entre eles, destacam-se a devoção a Nossa Senhora Aparecida e a famosa ‘queima do alho’, que são mantidas como homenagens a um modo de vida que é símbolo da cultura rural brasileira.
Os costumes herdados dos peões de boiadeiro
De acordo com a historiadora Karla Armani Medeiros, esses costumes se originaram durante as comitivas de gado, quando os trabalhadores rurais saíam das regiões criadoras, como Mato Grosso e Minas Gerais, em direção a Barretos, onde o gado seria vendido. “Esses hábitos vêm do trabalho do peão de boiadeiro, que é uma figura icônica na cultura sertaneja”, explica Karla, que aponta como essas tradições foram transformadas em elementos do cotidiano festivo da festa.
1. Queima do alho: uma tradição saborosa
Um dos costumes mais emblemáticos da festa é a ‘queima do alho’, que tem suas raízes nas longas jornadas dos peões. “Havia um peão responsável por preparar a comida, que precisava chegar antes da comitiva ao local de descanso. Esse peão levava consigo os alimentos e panelas”, relata Karla.
Avançando os anos, a queima do alho virou um concurso gastronômico na Festa do Peão de Barretos em 1958, onde os cozinheiros competem para preparar o melhor prato à moda tropeira, que inclui arroz carreteiro, feijão gordo e carne seca. O evento deste ano acontecerá no dia 24 de agosto.
2. Devoção a Nossa Senhora Aparecida
A fé é um pilar fundamental da Festa do Peão de Barretos, manifestando-se antes do início das montarias em um momento de oração a Nossa Senhora Aparecida. Os peões, durante esse momento solene, costumam se agachar, colocar suas mãos no coração e tirar os chapéus em respeito, segundo Elisete Greve Tedesco, presidente da Academia de Letras e Artes de Barretos.
A devoção é visível nos adornos dos peões, que frequentemente transportam imagens da santa em diversos objetos que vão desde chapéus a medalhinhas, demonstrando a busca por proteção e fé.
3. O berrante: a voz do campo
Outro símbolo marcante da cultura sertaneja é o berrante, um instrumento feito de chifre de boi que servia como um sistema de comunicação durante as comitivas. Com seus sons variados, o berrante é um recurso importante para coordenar as atividades do rebanho, sendo considerado um patrimônio imaterial da cultura do peão de boiadeiro.
Na Festa do Peão de Barretos, existe o ‘Concurso dos Berranteiros’, que premia os melhores tocadores durante a Queima do Alho, reafirmando a importância deste instrumento na tradição sertaneja.
4. Moda de viola: a essência musical do sertanejo
A viola caipira, com suas dez cordas, é uma das expressões mais puras da música sertaneja. Trazida da Europa, a viola passou a ser acompanhada de cantorias que refletem o cotidiano rural, desde a lida com a terra até as festividades. “Essas canções, que falam sobre a vida no campo, são passadas de geração em geração, sendo a base da música sertaneja contemporânea”, comenta Karla.
A música interpretada com viola destaca a história e as emoções que permeiam a vida dos trabalhadores rurais, estabelecendo uma conexão entre o passado e o presente da cultura brasileira.
5. Catira: a dança folclórica que celebra a tradição
A dança folclórica catira, também conhecida como ‘cateretê’, garante um espaço especial na Festa do Peão. Originalmente praticada apenas por homens, a catira envolve batidas rítmicas de mãos e pés, acompanhadas por música, evidenciando a riqueza da expressão cultural que remonta a influências indígenas e africanas.
As apresentações de catira ocorrem ao longo da festa e no dia da Queima do Alho, onde a cultura sertaneja é celebrada em sua plenitude.
Assim, a Festa do Peão de Barretos se mantém um vibrante palco de tradições que não só celebram o passado, mas também servem como uma ponte para o futuro da cultura sertaneja no Brasil. Com a preservação desses costumes, as novas gerações têm a oportunidade de vivenciar e valorizar a rica história que molda a identidade nacional.