A recente prisão de Jair Bolsonaro provocou uma intensa reação no Congresso Nacional, levando a oposição a obstruir os trabalhos legislativos que tentavam ser retomados após o recesso. Este movimento reflete um clima de tensão crescente entre as correntes políticas do país, acentuado por pedidos de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro e de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pela ordem de detenção domiciliar.
Oposição mobiliza estratégias no Congresso
Na manhã que se seguiu à prisão de Bolsonaro, oposicionistas se reuniram e, logo em seguida, falaram à imprensa. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) destacou a anistia, o impeachment de Moraes e o fim do foro privilegiado como prioridades de sua agenda. O deputado Altineu Côrtes (RJ), vice-presidente da Câmara, também se comprometeu a colocar a anistia em pauta assim que assumir a presidência da Câmara.
No entanto, a estratégia de pressionar o Congresso acabaria se revelando uma faca de dois gumes. Flávio Bolsonaro admitiu que a abordagem de “tudo ou nada” em relação à anistia não refletia o consenso da família Bolsonaro, mas o tom belicoso de uma tentativa de forçar a cúpula a agir em favor de suas demandas e de um retorno à ativa do ex-presidente.
Reações dos líderes do Congresso
A condução das atividades legislativas foi seriamente afetada pela obstrução promovida pelos aliados de Bolsonaro. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), se mostraram insatisfeitos com a postura da oposição, a qual foi classificada como “arbitrária” por Alcolumbre. Ambos cancelaram as sessões e convocaram reuniões de líderes para discutir a crise que se instalou.
A situação se complicou ainda mais com as ocupações das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado por oposicionistas, que buscavam impedir a abertura das sessões plenárias. Apesar da tentativa da cúpula do Congresso de encontrar uma saída negociada, a pressão dos bolsonaristas persistiu, mantendo os opositores nos plenários até o fim do dia.
Expectativas e dificuldades para aprovação de pautas
Os líderes de diversos partidos acreditam que o “pacote bolsonarista” não possui chances reais de prosperar nas votações da Câmara. O líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), destacou que não funcionará sob pressão. Essa expectativa é ecoada por outros líderes de partidos de centro, que enxergam as ações da oposição como uma manobra de minoria, distante da realidade política.
Além disso, há um crescente temor entre membros do governo, especialmente no PT, de que a obstrução da oposição atrapalhe as prioridades do governo no Congresso. Entre essas prioridades está a proposta que amplia a isenção do Imposto de Renda para rendimentos até R$ 5 mil, que deve ser aprovada até setembro para valer no próximo ano, quando Lula deve ser candidato à reeleição.
Medidas em meio à crise
Outras propostas importantes estão em pauta, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança, que pode ampliar os poderes da União, e diversas medidas provisórias que visam aumentar a oferta de médicos e regular o setor elétrico. A aprovação dessas propostas é crucial para atender à população e garantir que as prioridades sociais do governo possam ser discutidas e implementadas, mesmo em um cenário de fortes tensões políticas.
A dinâmica do Congresso Nacional está em constante mudança, e os próximos dias serão decisivos para a continuidade da agenda legislativa e para a estabilidade política do país.