A Argentina registrou um aumento expressivo nas importações de carne bovina no primeiro semestre de 2025, atingindo uma média de 1.033 toneladas por mês, um recorde desde 1997, segundo dados oficiais. Este crescimento é atribuído às políticas monetárias do presidente Javier Milei, que facilitaram a compra do produto estrangeiro, enquanto os preços internos continuam elevados.
Alta nas importações e influência das políticas de Milei
As compras mensais de carne do Brasil tiveram um aumento de mais de 4.200% na comparação com o mesmo período de 2023, passando de 24 para 1.033 toneladas. Ainda que o volume seja pequeno frente à produção total de 250 mil toneladas mensais na Argentina, esse dado sinaliza uma tendência de maior abertura econômica implementada por Milei, que busca conter a inflação e reforçar o peso do dólar.
Segundo Diego Ponti, analista do mercado de carnes da AZ Group, “como a Argentina foi ficando mais cara em dólares, isso permitiu que carne do Brasil chegasse a preços competitivos”. No entanto, ele acrescenta que os volumes de importação ainda são pontuais, regionalizados ou relacionados a negócios entre plantas de uma mesma empresa.
Contexto econômico e impacto na balança comercial
As importações argentinas de carne atingiram seu nível mais alto desde 2019, refletindo a estratégia de Milei para abrir a economia e conter a inflação. Mesmo com o recente enfraquecimento do peso, que ainda se mantém em torno de 1.360 por dólar, os preços da carne permanecem altos na Argentina.
Dados da AZ Group mostram que frigoríficos argentinos estão pagando cerca de US$ 5 por quilo de gado gordo, enquanto as exportações de carne bovina, avaliadas em US$ 3,4 bilhões em 2023, têm como principal destino a China. O aumento das compras externas é uma tentativa de equilibrar o mercado interno, onde o preço da carne subiu 53% em junho na Grande Buenos Aires — muito acima da inflação geral de 39%, divulgada pelo Instituto Nacional de Estadística e Censos (Indec).
Impactos na política e no comércio internacional
O crescimento nas importações ocorre em um momento de tensões comerciais, especialmente diante da recente tarifa de 50% imposta por Donald Trump à carne brasileira, no contexto de uma guerra comercial global. Ainda assim, Ponti destaca que “os excedentes que o Brasil não conseguir vender para os EUA, provavelmente serão direcionados principalmente para a China”, o que pode aprimorar o mercado de carne na Ásia.
Apesar das políticas de Milei ajudarem a moderar os preços e a aumentar a competitividade internacional, elas também ampliaram as importações baratas, o que tem afetado a balança comercial argentina e gerado preocupação com a necessidade de gerar dólares para estabilizar a economia e cumprir as obrigações com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O peso argentino permanece em um nível forte, em torno de 1.360 por dólar, consolidando-se como uma moeda relativamente valorizada diante do cenário inflacionário. Analistas avaliam que essa conjuntura tende a continuar, apesar de eventuais ajustes cambiais.
Para Ponti, “os volumes de comércio de carne ainda são pequenos, mas indicam uma mudança na estratégia econômica da Argentina, que busca equilibrar o mercado interno e ampliar possibilidades de exportação”.
Mais detalhes sobre as estratégias econômicas da Argentina e suas implicações podem ser conferidos neste link.