No coração do Rio de Janeiro, uma iniciativa inovadora está utilizando o lixo urbano para combater a fome, mostrando que resíduos podem gerar não apenas energia, mas também esperança. O programa Alimenta Rio, que coleta doações para o banco de alimentos da cidade, utiliza veículos movidos por energia gerada a partir de resíduos orgânicos, promovendo um ciclo de sustentabilidade e solidariedade.
O funcionamento do Ecoparque da Comlurb
Localizado no Caju, o Ecoparque da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) processa cerca de 40% do lixo produzido na cidade. Ali, cascas de frutas e restos de alimentos são separados e triturados para passar por um processo conhecido como biodigestão. Esse método transforma resíduos orgânicos em biogás, um gás capaz de produzir eletricidade suficiente para abastecer veículos, como os que operam no programa Alimenta Rio.
A energia gerada neste processo não apenas abastece os carros que coletam doações de supermercados, mas também é utilizada na usina do próprio Ecoparque, contribuindo para o seu funcionamento. O que não se transforma em biogás é reaproveitado como adubo, contribuindo para hortas comunitárias e a agricultura urbana, além de ser utilizado na manutenção de praças e jardins da cidade.
Transformando o resíduo em valor
Bernardo Ornelas, coordenador de projetos da Comlurb, enfatiza a importância desta transformação: “A gente tem a oportunidade de transformar matéria orgânica em valor. Tratando esse resíduo aqui, a gente evita o transporte, o que reduz a emissão de gás carbônico, originado dos caminhões que transportam lixo, e também previne a emissão de metano que vem do aterro sanitário.” Essa abordagem não apenas colabora com a proteção ambiental, mas também se torna uma ferramenta fundamental na luta contra a insegurança alimentar na cidade.
A opinião dos trabalhadores
Os colaboradores do Ecoparque também se mostram satisfeitos em fazer parte deste processo. Ataulfo de Souza, auxiliar de operação, compartilha sua experiência: “É muito legal você saber onde seu trabalho tá alcançando. A pessoa de fora pensa que o lixo chega aqui, a gente leva pro aterro sanitário e acabou. Não sabe como é grandioso, engenhoso esse processo. Vale a pena, bastante. Eu me sinto um felizardo de estar participando.”
Impacto positivo na comunidade
A proposta de utilizar lixo para produzir energia limpa gera um impacto positivo não apenas na sustentabilidade da cidade, mas também nas comunidades envolvidas. Com as doações coletadas pelos veículos elétricos, o programa Alimenta Rio garante que alimentos sejam redistribuídos para aqueles que mais precisam, contribuindo para a segurança alimentar no município.
Além das iniciativas de coleta de alimentos, a Comlurb também transforma galhos de podas urbanas em material reutilizável. Estes são triturados e empregados por indústrias de cerâmica, substituindo lenhas e outras fontes de energia poluentes, o que evidencia ainda mais a busca por soluções sustentáveis em um cenário urbano cada vez mais complexo.
Uma cidade mais sustentável
A energia limpa gerada a partir de resíduos orgânicos é uma resposta eficaz para os desafios sociais e ambientais enfrentados no Rio de Janeiro. Com um modelo de negócios que prioriza a economia circular, a cidade dá um passo importante em direção a um futuro mais sustentável, ao mesmo tempo em que combate a fome e promove inclusão social.
Iniciativas como essa mostram que é possível transformar problemas em oportunidades, utilizando inovação e consciência ambiental. O Rio de Janeiro, através do Ecoparque da Comlurb e do programa Alimenta Rio, se destaca como um exemplo de como cidades podem abordar a questão da gestão de resíduos e a fome de maneira interligada, criando um legado de responsabilidade e solidariedade.
À medida que mais cidades veem o potencial dos biocombustíveis e a importância do reaproveitamento de resíduos, a esperança é que essa prática se espalhe, transformando outras comunidades e contribuindo para um mundo mais sustentável.