A recente prisão de Jair Bolsonaro trouxe à tona um ambiente de incertezas e desconforto dentro do Partido Liberal (PL). A postura do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, que tem economizado nas defesas públicas do ex-mandatário, intensificou um mal-estar que já se arrastava desde a imposição de medidas cautelares pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 18 de agosto. Este cenário pressiona a liderança do PL a adotar uma postura mais decisiva em um momento de crise.
Reações apagadas e frustração entre aliados
No início, Valdemar emitiu uma nota curta, expressando seu inconformismo: “Estou inconformado. O que mais posso dizer?”. Após críticas sobre essa postura considerada protocolar e tímida, ele afirmou que as decisões judiciais eram um “exagero”. Contudo, as reclamações entre aliados já haviam emergido, revelando um crescente sentimento de abandono e a necessidade de uma defesa mais firme do PL em relação a Bolsonaro.
Nos bastidores da legenda, a frustração é palpável. Parlamentares e dirigentes do partido têm cobrado uma reação mais contundente do comando nacional. Uma nota protocolar não foi suficiente para apaziguar os ânimos, e muitos esperavam por um pronunciamento mais incisivo ou mesmo uma coletiva de imprensa. A avaliação entre os aliados é de que Valdemar tem evitado se expor, especialmente em tempos de desgaste.
A aproximação de Valdemar e Bolsonaro no PL
Durante duas semanas consecutivas, Bolsonaro seguiu uma rotina que envolvia sua presença na sede do PL, em Brasília. No entanto, Valdemar teria participado apenas em algumas ocasiões. Ambos se reuniram recentemente com a bancada do partido, onde discutiram pautas prioritárias para o retorno do recesso parlamentar. Essa interação, embora significativa, não pareceu suficiente para aliviar as tensões internas.
Tentações de uma liderança questionável
O clima intraparte foi agravado por uma tentativa de Valdemar de persuadir Bolsonaro a moderar suas críticas ao governo dos Estados Unidos, após a imposição de tarifas sobre produtos brasileiros durante a gestão de Donald Trump. Esse episódio, revelado pelo colunista Lauro Jardim, gerou críticas entre aliados, que perceberam a iniciativa como uma tentativa de “baixar a temperatura” em uma disputa perdida.
Para aliviar as pressões, Valdemar decidiu expulsar do partido um de seus aliados próximos, o deputado Antonio Carlos Rodrigues, que havia elogiado Alexandre de Moraes e criticado Trump. Essa decisão, embora surpreendente, levou a uma diminuição temporária das críticas internas, mas não solucionou a questão central da falta de coesão e estratégia do partido.
Expectativas e incertezas para o futuro do PL
Apesar das cobranças, parte da cúpula do PL prefere amenizar o desconforto estampado nas críticas. O líder do partido na Câmara, Altineu Côrtes, reforçou a parceria entre Valdemar e Bolsonaro, afirmando: “Não existe cara mais parceiro do Bolsonaro do que o Valdemar”. No entanto, essa afirmação não consegue esconder a principal queixa já elevada por parlamentares e dirigentes regionais: a ausência de uma resposta coordenada em meio à crise.
A expectativa entre os aliados é por um movimento mais visível do comando nacional, que poderia incluir apoio público, articulações jurídicas e ações estratégicas de comunicação em defesa de Bolsonaro. Após a prisão, Valdemar fez uma nota onde questionava a proporcionalidade das medidas cautelares, mas o seu posicionamento foi considerado insuficiente.
O futuro do PL sem Bolsonaro
A situação do PL também carrega implicações para o futuro do partido, especialmente em um cenário em que a figura de Bolsonaro não esteja mais presente. O diálogo interno já começa a fluir sobre a definição do novo nome que representará o PL nas disputas presidenciais. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, surge como uma opção apadrinhada por setores mais moderados, contudo, enfrenta resistência entre os bolsonaristas mais fiéis.
Valdemar, que exerce uma significativa influência sobre o fundo partidário e as principais decisões estratégicas, é visto como chave nessa transição. Sem a liderança de Bolsonaro, o PL precisará urgentemente redefinir seu rumo e lideranças de forma adequada, exigindo preparação e articulação desde já.
Procurados pela reportagem, tanto Valdemar Costa Neto quanto o PL não retornaram os contatos para comentar sobre a situação atual.