A cena é inusitada até mesmo para os mais habituados ao vibrante universo das corridas de rua. Em meio a dezenas de atletas em bermuda e tênis de alta performance, destaca-se um homem com botina surrada, chapéu de couro e calça jeans, que exibe um sorriso largo. Ele é Marcos Fernandes, conhecido como Cowboy, uma figura carismática que se tornou uma presença marcante em provas pelo interior de Minas Gerais e São Paulo. Sua vestimenta peculiar não é a única razão pela qual ele atrai a atenção; sua história de vida repleta de superações emociona e inspira quem tem a oportunidade de conhecê-la.
Da festa à corrida: o início de uma jornada
Aos 55 anos, Marcos nunca imaginou que se tornaria um corredor. Ele compartilha que seu primeiro contato com a corrida aconteceu após uma noite de festa em uma cidade vizinha. “Foi sem querer querendo. Bebi até não poder mais, dancei, e quando estava voltando para casa a pé, vi um grupo se preparando para correr e decidi ir junto. Corri 21 km em uma estrada de terra e serra. Ao subir, só rezava e reduzia a marcha; ao descer, soltava o freio e deixava o corpo ir. Nunca tinha corrido antes, mas terminei a prova. E foi ali que tudo começou”, conta Marcos.
A botina que calça durante as corridas não é apenas um detalhe de estilo, mas sim a mesma que ele usa no trabalho na roça. “Não tem frescura, não. No máximo eu dou uma limpada boa nela na noite anterior à corrida”, brinca o corredor.
Da roça para a rua, com fé
Além de manter sua vestimenta de cowboy, Marcos traz consigo a essência sertaneja. Ele trabalha com madeira, corta lenha e realiza serviços pesados na roça, considerando essas atividades como seus maiores treinos. Para aprimorar sua performance, ele começou a treinar corrida de rua com seu treinador Ronan uma vez por semana e frequenta a academia três dias na semana.
As reações do público durante as corridas são variadas, segundo ele. “Tem gente que ri, tem gente que chora. Muitos me abraçam ao final da prova”, destaca o cowboy, que encontrou na corrida uma forma de se conectar com as pessoas.
Tragédia, luto e recomeço
Por trás do sorriso contagiante e do personagem que atrai olhares nas ruas, está um homem que viveu profundas perdas. Marcos perdeu seu filho em um atropelamento quando ele ainda era muito pequeno, além de sua mãe e seu irmão em um curto espaço de tempo. Esses eventos trágicos o levaram a um caminho de autodestruição, envolvendo álcool e depressão.
O “cowboy corredor” também tem suas histórias engraçadas. Ele se lembra de uma corrida em que conseguiu vencer um atleta profissional por apenas um segundo. “O cara ficou bravo de ter perdido para mim, que estava de botina. Agora ele me desafiou para uma revanche. E eu vou da mesma forma: de corpo, alma e botina”, conta, com um sorriso no rosto.
A história de Marcos Fernandes transcende o esporte; ela é um testemunho de resiliência e superação que ressoa com muitos que enfrentam batalhas pessoais. O Cowboy corredor é um símbolo de que, com determinação e fé, é possível seguir em frente, independentemente das adversidades.