No coração de São Paulo, uma operação da Guarda Civil Municipal (GCM) na região do Brás, conhecida pelo seu comércio ambulante intenso, culminou em uma situação caótica nesta terça-feira, 5 de agosto. A ação visava desobstruir as vias ocupadas por vendedores informais, mas resultou em confrontos que deixaram uma mulher ferida e um jovem detido. As imagens, que rapidamente se espalharam nas redes sociais e na TV Globo, mostram a tensão crescente entre os agentes e os ambulantes que tentavam sustentar suas atividades de trabalho.
Detalhes da operação e relatos de ambulantes
Os vídeos da troca de agressões revelam que os guardas civis avançaram em direção aos ambulantes, utilizando bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Edivania Alves, uma vendedora ambulante de 47 anos que trabalha no Brás há quase uma década, foi uma das atingidas pelo spray. Em seu relato, Edivania descreveu a cena confusa, afirmando que a abordagem dos policiais foi desencadeada por uma ordem de um supervisor, que aparentemente queria somente a remoção dos ambulantes, sem qualquer explicação prévia.
“Eu chego no Brás todo dia meia-noite. Às 6h a GCM estava na rua Rodrigues dos Santos. Às 7h vi a movimentação de carros da GCM”, explicou Edivania. Segundo ela, a resistência dos ambulantes estava ligada à falta de comunicação clara da subprefeitura sobre a operação, que parecia ser uma rotina invasiva sem fundamentação legal adequada. Ela ainda assegurou que o grupo tinha a intenção de permanecer até que alguém da subprefeitura aparecesse para explicar a situação.
O que aconteceu durante o tumulto
No meio do tumulto, Anthony Brandão, um jovem ambulante de 22 anos com oito anos de experiência em vendas na região, foi detido. Segundo ele, a abordagem da GCM foi brusca, e, além de seu celular ter sido confiscado, ele ficou ferido e decidiu registrar boletins de ocorrência por agressão e roubo. “Não estão deixando a gente trabalhar desde sexta-feira. Eles falam para ir à subprefeitura e quando estamos lá, somos dispensados sem respostas”, relatou Anthony, evidenciando a frustração da classe trabalhadora.
Reações e posicionamento das autoridades
Em resposta ao evento, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana emitiu uma nota informando que a operação tentou desobstruir a via pública após uma discussão que surgiu entre um dos ambulantes e os agentes. A prefeitura afirmou que os agentes usaram “material de menor potencial ofensivo” apenas para controlar a situação, reiterando que alega que os ambulantes incitaram os colegas a reagirem contra os oficiais da lei.
Autoridades garantiram que a normalidade foi restabelecida na região e que a GCM intensificou as operações no Brás para garantir a segurança dos cidadãos e coibir práticas de comércio irregular. A Secretaria da Segurança Pública confirmou que o jovem que foi detido já foi liberado após prestar depoimento, e uma perícia foi acionada para avaliar os acontecimentos.
A perspectiva dos ambulantes
A população de ambulantes no Brás se sente cada vez mais insegura e invisibilizada em suas atividades diárias. A falta de diálogo e a percepção de violência nas operações de segurança pública geram um clima de hostilidade e desconfiança em relação às autoridades. Vendedores como Edivania e Anthony insistem que suas atividades são legítimas e que suas presenças contribuem para a vivacidade e economia da região, e não para a desordem.
Embora a GCM tenha uma missão de garantir a ordem pública, muitos questionam as abordagens intensas usadas, que acabam resultando em violência ao invés de soluções educativas e conciliadoras. A situação conta um retrato maior das tensões entre o comércio formal e informal em áreas urbanas e a necessidade urgente de um diálogo efetivo entre ambulantes e autoridades locais.
À medida que a cidade busca um equilíbrio entre segurança e direito ao trabalho, a situação no Brás levanta questões sobre como as políticas públicas podem melhor atender a todos os cidadãos, sem discriminar aqueles que apenas tentam ganhar a vida.