A Argentina, país tradicionalmente conhecido por sua forte tradição pecuária, está aumentando suas importações de carne bovina, impulsionada pelas políticas monetárias e comerciais do presidente Javier Milei. Desde o início do ano, as importações mensais atingiram uma média de 1.033 toneladas, o que representa um aumento expressivo comparado às apenas 24 toneladas no mesmo período de 2023, segundo dados oficiais brasileiros. Trata-se do maior volume sazonal registrado desde 1997 e o nível mais alto desde 2019.
Impacto das políticas de Milei na carne argentina
Como parte de sua estratégia de abrir a economia e manter o peso forte do peso argentino, Milei adotou medidas que facilitaram a entrada de carne importada. Essas ações ocorrem à medida que os preços locais de carne crescem, mesmo com o consumo per capta declinando gradualmente para cerca de 50 quilos anuais, ainda entre os maiores do mundo. Em junho, por exemplo, o preço da carne na Grande Buenos Aires subiu 53% em relação ao ano anterior, bem acima da inflação de 39%, refletindo o esforço do governo para conter os preços e conquistar eleitores nas eleições legislativas de outubro.
Políticas econômicas e seus efeitos
Apesar de representar uma parcela pequena da produção nacional de cerca de 250 mil toneladas mensais, o aumento das importações evidencia a aposta de Milei na manutenção do peso forte e na abertura comercial. Assim, a intenção é conter a inflação e gerar mais dólares, essenciais para equilibrar a balança cambial à medida que o peso se mantém em torno de 1.360 por dólar, nível considerado relativamente forte.
“Como a Argentina foi ficando mais cara em dólares, isso permitiu que carne do Brasil chegasse a preços competitivos”, explica Diego Ponti, analista do mercado de carnes da AZ Group. Ele destaca, no entanto, que esses negócios representam volumes pequenos, geralmente pontuais, realizados em regiões próximas ou entre plantas de empresas que atuam nos dois países.
Perspectivas e desafios do mercado de carne argentina
Os frigoríficos argentinos, que pagam o gado em pesos, chegaram a desembolsar aproximadamente US$ 5 por quilo de boi gordo, segundo dados da AZ Group. Grande parte das exportações de carne bovina do país tem como destino principal a China, avaliada em US$ 3,4 bilhões em 2023. No entanto, tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, em meio à guerra comercial global, podem alterar o cenário competitivo internacional.
“Os excedentes que o Brasil não conseguir vender para os EUA provavelmente serão direcionados principalmente para a China”, afirma Ponti. “Assim, os importadores chineses podem negociar contratos com preços mais baixos, o que impacta a dinâmica do mercado mundial.”
A recente subida do dólar e as políticas de Milei também refletem um esforço para manter o peso em patamares elevados, o que favorece as importações, mas coloca em debate os efeitos sobre a balança comercial e os compromissos com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Apesar do recente enfraquecimento do real, o real argentino ainda exibe resiliência, mantendo um câmbio relativamente forte e influenciando o comércio internacional de carnes, que se adapta às mudanças geopolíticas e econômicas do cenário global.
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