O ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) João Pedro Nascimento renunciou ao cargo no dia 19 de julho, atribuindo sua saída a “razões pessoais”. Ele revelou que sua família vinha pressionando por sua saída, mas, reservadamente, integrantes do governo do presidente Lula indicaram que a justificativa real estaria relacionada a ameaças que vinha recebendo, embora não tenham especificado as origens nem os motivos.
Ameaças e tensões no cargo enigmático
Segundo interlocutores próximos, Nascimento mencionou que tinha um prazo para tomar essa decisão, o que reforça a hipótese de que a pressão e ameaças teriam sido fatores condicionantes. Além disso, o ex-presidente se queixou do tratamento recebido durante audiência na Câmara dos Deputados no início do mês, onde foi duramente questionado por deputados bolsonaristas, especialmente sobre possíveis conflitos de interesse relacionados a votos em processos envolvendo o banco BTG Pactual, onde seu irmão trabalha.
Críticas e controvérsias na gestão
Durante a audiência, Nascimento foi acusado por deputados da oposição de proteger um “clubinho” de empresas amigas e criticou a política de diversidade da autarquia. No cenário interno, ele também esteve envolvido em processos que tiveram mudanças drásticas após sua saída, como o caso da Ambipar, companhia de gestão ambiental cuja presidência interina mudou o rumo do processo com uma votação que anulou votos anteriores de Nascimento.
Processos controversos e interesses poderosos
Um caso emblemático envolve a companhia de Nelson Tanure e o banco Master, controladores da Ambipar, que tiveram suas participações acionárias elevadas em uma operação que gerou aumento expressivo no valor das ações. A decisão da CVM, que poderia obrigar uma oferta pública de ações, foi alterada por um voto de Otto Lobo, que assumiu a presidência de forma unilateral, anulando as vontades de Nascimento e de outros diretores, o que chamou atenção pelo impacto na justeza do processo.
Desafios na condução da autarquia
Com a saída de Nascimento, o colegiado da CVM ficou com apenas três dos cinco membros necessários, dificultando a análise de processos relevantes. A indicação de novos diretores caberá ao presidente Lula, que precisará aprovar nomes no Senado, o que parece um desafio diante do ambiente interno conflagrado e interesses de poder que rondam a autarquia.
Repercussões e próximos passos
O caso mais recente em que a atuação de Nascimento foi decisiva envolve um termo de compromisso relativo a operações fraudulentas com o fundo Brazil Realty, que também está sob risco de mudanças, após autorizações e votos extras de alguns diretores na CVM. Ainda assim, especialistas avaliam que a instabilidade interna deve continuar, dificultando a resolução de processos complexos e envolvendo poderes econômicos e políticos.
Para a equipe da coluna, Nascimento negou categoricamente as ameaças e afirmou que sua saída foi motivada por razões pessoais, reforçando que qualquer outra hipótese é “improcedente e especulativa”. Entretanto, a atmosfera de turbulência na autarquia ainda traz dúvidas sobre o futuro da condução da CVM e seus desdobramentos políticos e legais.
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