HOUSTON — Daniel Savala se recosta em uma poltrona e levanta a mão direita, jurando diante de Deus que o que está prestes a dizer é a verdade. No vídeo gravado por um advogado em 2023, o missionário pentecostal fala calmamente sobre como, durante décadas, conquistou a confiança de estudantes universitários que buscavam orientação espiritual em seu bungalow. Ele utilizava as escrituras para convencê-los de que poderiam abrir-se sobre temas desconfortáveis como pornografia e masturbação. Em seguida, agia, tocando seus genitais e pressionando-os a tocar os seus, tudo sob a justificativa de uma aproximação com Jesus.
“Eu sabia que estava errado,” diz Savala. “Mas eu fiz assim mesmo.”
A religião, segundo ele, foi sua ferramenta de engano. “As pessoas veem apenas a parte espiritual da sua vida sem perceber a totalidade de quem você é.” E quem ele realmente é? “Manipulador,” responde sem hesitar. “Astuto.” “Sinistro.”
Nos dois anos desde que Savala gravou essa confissão em sua casa em Houston, advogados, ativistas e denunciantes trabalham para entender como um condenado por crimes sexuais com apenas o ensino fundamental conseguiu convencer pastores e jovens cristãos a confiar nele — e por que as autoridades da igreja falharam repetidamente em detê-lo.
Relatos de polícia, processos judiciais e entrevistas com a NBC News mostram que dezenas de meninos e jovens descreveram como Savala distorceu o evangelho. Ele ensinou que ver uns aos outros nus em sua sauna no quintal era fundamental para se tornarem verdadeiros irmãos em Cristo — ou, como ele mesmo dizia, “nudidade é unidade.” Para aqueles que lutavam com tentações sexuais, oferecia uma solução: masturbação em grupo, às vezes ouvindo música cristã de adoração. Pelo menos 10 de seus discípulos o acusaram formalmente de abuso sexual.
Em um relato impressionante, Joseph Cleveland se lembra de como Savala o preparou e abusou dele por uma década. “Ele dizia coisas como: ‘Ei, você sabe que é ok masturbar-se,’ porque éramos irmãos e podíamos fazer isso juntos.”
Os pastores que conduziam centenas de alunos do ensino médio e da faculdade até a casa de Savala eram parte do Chi Alpha, um ministério cristão que evangeliza em campi universitários. Os estudantes buscavam no Chi Alpha uma conexão com Deus e uns com os outros, através de grupos de estudo bíblico e emocionantes cultos — e por mais de 30 anos, através de Savala. Gerações de líderes do Chi Alpha o viam como um sábio espiritual capaz de responder aos mistérios mais profundos da vida.
Os jovens que se dedicaram a Savala o chamavam de “Papa Daniel” e “o homem mais santo vivo”. Sob sua direção, equipes de estudantes construíram a sauna no quintal que se tornou o cenário de seus supostos crimes. Envolvidos com seus ensinamentos, muitos dos seguidores não se viam como vítimas até anos ou décadas depois. Um dos estudantes universitários que Savala explotou sexualmente mais tarde se tornou pastor e trouxe seus próprios meninos para aprender com seu mestre na sauna escura.
A recompensa pela devoção desse ministro: assim como Savala, ele agora enfrenta a possibilidade de prisão perpétua.
Através de 2023, Savala viu seu ministério colapsar quando diversos homens se apresentaram com acusações de abuso sexual, desencadeando uma onda de acusações criminais, processos e demissões de pastores. Savala foi preso, e pelo menos seis pastores e alunos do Chi Alpha que estudaram sob sua influência foram acusados de abuso sexual.
Essas revelações abalaram o Chi Alpha e a denominação pentecostal que a dirige, as Assembleias de Deus, que possui quase 3 milhões de membros em 13.000 igrejas nos EUA. Enquanto Savala, agora com 69 anos, aguarda julgamento em Waco, Texas, os líderes das Assembleias de Deus tentaram se distanciar do ministro leigo, afirmando repetidamente que Savala não estava empregado pelo Chi Alpha e nunca teve credenciais para pregar na denominação.
No entanto, uma investigação da NBC News, baseada em entrevistas e revisão de e-mails, registros judiciais, fotografias e postagens em redes sociais, mostra que Savala estava profundamente integrado ao Chi Alpha, com alguns líderes atribuindo a ele o crescimento rápido do ministério nas últimas décadas. A investigação revela que os líderes das Assembleias de Deus — até o superintendente nacional da denominação — foram avisados repetidamente sobre o histórico problemático de Savala, mas não cortaram sua influência, permitindo que mais crianças e jovens fossem abusados.
Não foi a primeira vez que as autoridades das Assembleias de Deus enfrentaram acusações de lidar inadequadamente com alegações de abuso sexual. Em maio, outra investigação da NBC News revelou como líderes da igreja ignoraram repetições de alegações de abuso contra um pastor de crianças carismático nos anos 1980, permitindo que ele permanecesse no ministério enquanto mais supostos vítimas surgiam.
O Chi Alpha teve uma clara oportunidade de romper laços com Savala em 2012, quando autoridades do Alasca o acusaram de abusar sexualmente de meninos como ministro juvenil nos anos 1990. Em vez disso, líderes do ministério no Texas se uniram para defendê-lo, enviando um membro da equipe ao Alasca para pagar sua fiança e organizando uma campanha de cartas pedindo ao juiz por clemência. Após um período na prisão, Savala voltou a receber estudantes do Chi Alpha em sua casa em Houston.
No período seguinte, pelo menos meia dúzia de pessoas contataram as autoridades das Assembleias de Deus no Texas e na sede nacional, alertando que o Chi Alpha estava expondo estudantes a um agressor sexual. Essas denúncias foram ignoradas, mostrando uma cultura de liderança que prioriza a responsabilidade legal sobre a proteção dos vulneráveis. Críticos estão chamando as Assembleias de Deus a conduzir uma revisão independente de seu manejo de alegações de abuso sexual em todo o país para garantir que casos como esse não se repitam.
Num comunicado à NBC News, as Assembleias de Deus afirmaram ter orientado os líderes do Chi Alpha a evitar Savala após um relatório sobre ele em 2018. “Estamos de coração partido ao ouvir as alegações relacionadas a Daniel Savala e a dor que suas ações causaram”, diz o comunicado. “Assembleias de Deus se opõe fortemente aos ensinamentos e práticas que ele seguiu.”
Savala ainda não se pronunciou sobre as acusações no Texas, e ele e seus advogados não responderam a pedidos de comentários. Mas, em abril de 2023, à medida que as acusações se acumulavam, gravou a confissão em sua sala; não está claro o que o levou a fazê-lo. O vídeo caseiro logo circulou entre os acusadores de Savala e foi compartilhado com a NBC News.
“Eu os tinha todos muito bem sob meu feitiço,” conclui Savala em seu depoimento.
