Brasil, 7 de setembro de 2025
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Desafios de hospedagem ameaçam a inclusão na COP30 em Belém

A crise de hospedagem em Belém levanta questões sobre a inclusão de delegações de países mais pobres na COP30.

O embaixador brasileiro André Corrêa do Lago, com uma longa carreira diplomática e expertise em negociações climáticas, está enfrentando um desafio inédito em sua trajetória: garantir a hospedagem para as delegações que participarão da 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP30, que acontecerá em Belém. Esta situação surge no contexto de diárias em hotéis que alcançam preços exorbitantes, até 15 vezes maiores do que o normal durante o evento, resultando em questões políticas e logísticas significativas.

A crise de hospedagem como obstáculo político

Os altos preços das diárias não são viáveis para delegados de países mais pobres, que, em sua grande maioria, são os mais afetados pelas mudanças climáticas. Recentemente, durante uma reunião da ONU, representantes de nações vulneráveis expressaram sua incapacidade de viajar para Belém devido aos custos prohibitivos. Corrêa do Lago ressaltou a importância da inclusão desses países na conferência, dizendo: “Com a ausência dos países mais pobres, ficaríamos com uma COP sem legitimidade, e a participação universal é fundamental”.

Com apenas 100 dias para o início da COP30, a presidência da conferência reafirma a intenção de manter a realização do evento em Belém, sem planos alternativos. Ana Toni, CEO da conferência, afirmou que “o governo acredita no plano A” e que “soluções estão sendo buscadas dentro deste plano”, enfatizando o simbolismo de realizar a COP na Amazônia.

Logística e inclusão ameaçadas

É a primeira vez que problemas logísticos dominam tanto a agenda da conferência. O próprio embaixador reconheceu que a crise de hospedagem está desviando a atenção de outras questões cruciais para a negociação. Delegações de países em desenvolvimento dependem de diárias de cerca de 143 dólares fornecidas pela ONU, o que limita suas opções de hospedagem. Atualmente, os preços em Belém chegam a 2 mil dólares em média por dia.

O governo tem designado uma equipe da Casa Civil para enfrentar essa situação, que busca opções acessíveis e, para isso, uma plataforma digital foi lançada para oferecer alternativas de hospedagem aos diversos participantes da COP. “Queremos garantir a presença de todos os países-membros da UNFCCC e do Acordo de Paris”, afirma Corrêa do Lago, sublinhando o desejo de promover uma COP inclusiva.

A crítica à falta de planejamento

A confirmação da Amazônia como sede da COP aumentou as expectativas em relação às negociações climáticas, especialmente por ser a primeira edição realizada em um país democrático do Sul Global. Contudo, a falta de planejamento e as dificuldades logísticas foram amplamente criticadas por especialistas. “O Brasil deveria ter preparado a infraestrutura para acolher as pessoas. O que vimos até agora é uma falha do governo em garantir condições mínimas para a realização do evento”, critica Cláudio Angelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima.

Angelo destaca que, devido a essa crise, a essência da COP, que deveria priorizar a inclusão de vozes normalmente marginalizadas, está ameaçada. “A crise em Belém é resultado do desleixo do governo brasileiro e pode comprometer a organização de uma conferência inclusiva”, complementa.

Consequências no setor hoteleiro

Mario Tito Almeida, professor da Universidade da Amazônia (Unama), aponta que os altos preços refletem a escassez de leitos na cidade e uma falta de diálogo entre o governo estadual e o setor hoteleiro. Segundo ele, um acordo onde os preços fossem controlados poderia evitar a situação atual. “Deveríamos ter buscado alternativas, mas isso não aconteceu”, comenta.

A situação atual pode elitizar o evento, levando a uma COP sem a representatividade necessária de países mais pobres. Almeida expressou preocupação com a possibilidade de que interesses de setores do Sudeste do Brasil estejam buscando transferir a COP para essa região, alegando que Belém não tem a capacidade de sediar um evento dessa magnitude.

A afirmação das autoridades sobre a capacidade hoteleira

Em uma coletiva de imprensa recente, o embaixador Corrêa do Lago foi questionado sobre a capacidade hoteleira de Belém, e a organização da COP anunciou que a cidade possui mais de 53 mil leitos, suficientes para acomodar os 50 mil visitantes esperados. No entanto, essa contagem inclui diversas modalidades de hospedagem, como navios de cruzeiro e propriedades listadas no Airbnb.

Enquanto as autoridades insistem que Belém está pronta para receber a COP30, especialistas e representantes de países mais pobres continuam a manifestar preocupação sobre a acessibilidade e a real possibilidade de uma participação abrangente no evento. O futuro da COP30 em Belém dependerá da capacidade do governo brasileiro de resolver as questões de hospedagem e garantir que todos os países-membros estejam representados.

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