A implementação da tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre as exportações de café do Brasil, principal fornecedor ao mercado norte-americano, foi adiada para 6 de agosto. A medida, que poderia impactar significativamente o setor cafeeiro brasileiro, provoca incertezas e força o país a reavaliar suas estratégias comerciais, segundo análises do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP em Piracicaba (SP).
Impacto da tarifa de Trump no setor cafeeiro brasileiro
De acordo com o Cepea, o aumento das tarifas pode prejudicar a competitividade do café brasileiro nos Estados Unidos, que responded por aproximadamente 23% do total de importações norte-americanas em 2024. A medida também ameaça a estabilidade de preços internos e internacionais do grão, refletindo na cadeia produtiva que envolve torrefadoras, cafeterias e redes de varejo.
Apesar de alguns segmentos terem conseguido escapar da tarifa, como o setor aeronáutico, outros, como o café, carne bovina e frutas frescas, estão sob forte risco de sofrer impactos diretos. A análise aponta que esses produtos utilizam grande parte do café brasileiro nos blends tradicionais, o que pode alterar o perfil sensorial dessas bebidas nos Estados Unidos.
Exceções estratégicas e negociações em andamento
O decreto assinado por Trump na última quarta-feira (30) elevou em 40 pontos percentuais a tarifa sobre produtos brasileiros, mas inclui uma lista de 700 exceções para setores estratégicos, como o energético, aeronáutico e partes do agronegócio. No caso do café robusta, por exemplo, o Vietnã negocia redução da tarifa para 20%, frente aos 46% previstos inicialmente.
O setor cafeeiro também observa que o Brasil lidera as exportações de arábica para os EUA, enquanto a Colômbia, principal concorrente, permanece isenta da tarifa. “Essa diferenciação pode alterar o cenário de competitividade do Brasil no mercado norte-americano”, avalia Lucas De Mora Bezerra, pesquisador do Cepea.
Perspectivas e estratégias diante do cenário de incerteza
O aumento do custo de importação dos EUA compromete a viabilidade econômica da cadeia interna brasileira de café, que envolve desde produtores até indústrias de bebidas. Mesmo com uma boa capitalização na safra 2024/25, a comercialização da safra 2025/26 tem avançado lentamente devido às oscilações de preço e à insegurança gerada pela tarifa.
Especialistas reforçam a necessidade de uma articulação diplomática coordenada para rever ou excluir tarifas sobre produtos agroalimentares brasileiros. “Essa medida é essencial tanto para a sustentabilidade da cafeicultura quanto para a segurança alimentar dos próprios Estados Unidos”, afirma Renato Ribeiro, pesquisador do Cepea.
Impactos sobre o mercado mundial de café e exportações brasileiras
O Cepea projeta que, além do setor cafeeiro, frutas frescas — sobretudo mangas e uvas — podem sofrer atrasos nas exportações devido às incertezas tarifárias. O mercado de frutas, que previa crescimento em 2025, passa a enfrentar desafios diante da indefinição.
Quanto às carnes, os Estados Unidos representam o segundo maior comprador da carne bovina brasileira, responsável por 12% das exportações. Em junho, as vendas aos EUA atingiram o menor volume desde dezembro do ano passado, indicando um possível impacto negativo no comércio.
Os especialistas alertam que a retração nas exportações do café e de outros produtos pode levar ao armazenamento excessivo no mercado interno e à necessidade de redirecionamento de vendas para União Europeia ou outros destinos. “A desorganização dos fluxos comerciais é um risco que pode afetar toda a cadeia agroindustrial brasileira”, enfatiza o Cepea.
Para o setor cafeeiro, a estratégia de diversificação de mercados e de otimização logística será fundamental para mitigar os efeitos adversos das tarifas de Trump, enquanto negociações diplomáticas permanecem em andamento.
Mais detalhes sobre o impacto do tarifaço podem ser acessados na reportagem original do G1: Fonte.