Os produtores de manga no Vale do São Francisco, principal região exportadora do Brasil, já sentem os efeitos da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos, que entra em vigor em 6 de agosto. A medida, anunciada pelo governo americano, ameaçará uma importante fatia das exportações brasileiras, impactando toda a cadeia produtiva.
Impacto na exportação e na produção brasileira de manga
Com os novos impostos, as mangas do tipo Tommy, preferência dos consumidores americanos, ficaram inviáveis de serem enviadas aos EUA. A exportação de 258 mil toneladas em 2024, que gerou cerca de US$ 350 milhões, pode ser prejudicada, afetando tanto os grandes exportadores quanto os pequenos produtores.
Hidherica Torres, proprietária de uma fazenda em Casa Nova, Bahia, relatou que suas mangas estavam destinadas ao mercado externo, mas receberam aviso de que não poderiam mais ser enviadas. “Estamos correndo para ver possibilidades na Europa ou Canadá, mas o medo é que todas fiquem no chão e percam completamente valor”, afirmou.
Consequências do conflito comercial
Segundo dados do Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina (SPR), 92% da manga produzida na região são destinadas à exportação, sendo que a maioria vai para a Europa. Com a redução das vendas aos EUA, a produção brasileira sofre uma baixa significativa na demanda em curto prazo.
Produtores têm enfrentado uma crise de preços, com ofertas que chegam a menos de R$ 0,80 por quilo, contra cerca de R$ 6 no início do ano. “Desse jeito, nem conseguimos pagar os custos de produção”, afirmou José Nilton Gonçalves, pequeno produtor de Pernambuco.
Repercussões na economia local e nas exportações
A diminuição na busca por mangas brasileiras gera excesso de oferta no mercado interno e nos países receptores, com impacto direto nos preços e na renda dos agricultores. Cooperativas e exportadoras também ficam prejudicadas, já que a diminuição das vendas reduz o faturamento do setor.
Especialistas alertam que a guerra comercial ameaça uma das maiores commodities do Brasil, com a perda de espaço no mercado americano, que costuma comprar mangas de vários países na sua sazonalidade.
Reações e possíveis medidas futuras
Críticos apontam a ausência de ações do governo brasileiro para combater o aumento de tarifas, e o presidente do SPR, Jailson Lira, questionou se o governo está “medindo forças com os EUA” sem uma estratégia clara de negociação. As autoridades brasileiras ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o tema.
Para o setor, o momento demanda uma ação coordenada para evitar o fechamento de mercados e estimular o consumo interno de mangas, como sugere o produtor Eduardo Nakahara. “Seria ideal uma campanha nacional para valorizar a manga como fruta brasileira e proteger o setor”, defende.
Perspectivas de futuro e medidas emergenciais
O setor agrícola do Vale do São Francisco prevê que, se mantidas as tarifas, haverá uma mudança definitiva na dinâmica comercial das mangas, com impacto negativo na economia local e na geração de empregos. O apoio a alternativas de mercados internos e a negociação diplomática são considerados prioritários para minimizar os prejuízos.