As rápidas transformações na tecnologia de inteligência artificial (IA), especialmente desde o lançamento do ChatGPT, trazem paralelos com a história da internet nos anos 1990. Assim como a internet foi apresentada ao público na época, a narrativa atual sobre as ferramentas de IA busca convencer empresas e consumidores de sua importância para o futuro.
O aprendizado com os anos 90: marketing e expectativas
Durante os anos 1990, os gigantes da tecnologia usaram uma linguagem utópica para popularizar a internet, apresentando-a como uma ferramenta de progresso humano que aumentaria a produtividade e o acesso ao lazer. Naquela época, o objetivo principal era convencer o público doméstico a adquirir conexão de internet para suas casas.
Hoje, as empresas de IA adotam estratégias comerciais distintas, com foco maior em segmentos corporativos. Segundo análises, o modelo de negócios da IA visa gerar lucros a partir do mercado empresarial, com produtos como o ChatGPT Enterprise e o ChatGPT Edu, enquanto o público consumidor ainda responde por uma fatia menor da receita.
Impulsionando a adoção com previsões de futuro
Olhando para os anos 1990, nota-se que as empresas de tecnologia fizeram previsões sobre quem teria o poder no futuro digital, moldando suas estratégias de marketing com base nessas visões. O mesmo acontece hoje na indústria de IA, onde a narrativa institucional reforça a importância de empresas adotarem rapidamente essas tecnologias para não ficarem para trás.
A publicidade da internet e da IA
Na década de 1990, campanhas de marketing focaram em transmitir a segurança e a conveniência de usar a internet em casa. Atualmente, a narrativa se volta a convencer empresas e trabalhadores de que a adoção da IA é vital para sua competitividade, muitas vezes minimizando ou omitindo críticas relativas a possíveis perdas de emprego ou desigualdades geradas pela tecnologia.
Posicionamento corporativo e o papel do trabalhador
Hoje, há uma mudança de foco: enquanto na era da internet o objetivo era estimular o uso doméstico, na era da IA as empresas priorizam o uso empresarial. Ainda assim, a preocupação com os impactos no mercado de trabalho é evidente, com críticas crescentes de que a adoção de IA pode transformar, reduzir ou eliminar postos de trabalho.
Dados da OpenAI indicam que, embora 75% da receita venha de assinantes consumidores, a empresa investe pesadamente em produtos destinados ao mercado corporativo, prevendo prejuízos até 2029, com uma expectativa de perda de US$ 44 bilhões. Isso revela uma estratégia de monetização diferente em relação à época do início da internet, que focou na massa de consumidores domésticos.
Aprendizados do passado para compreender o presente
A história da internet dos anos 90 nos mostra que as previsões de futuros desejáveis moldaram amplamente as campanhas de marketing. Os líderes tecnológicos anteciparam um futuro em que o poder estaria na mão de alguns e decidiram persuadir o público de que a tecnologia era, acima de tudo, progresso e acessibilidade.
Hoje, a narrativa da IA continua essa tradição, mas com um foco maior no domínio empresarial e na necessidade de merecer investimento para manter a competitividade. Como na transição digital dos anos 1990, o sucesso da adoção da IA dependerá também da confiança do público e da capacidade de entender seus riscos e benefícios.
Espera-se que, assim como a internet criou um novo ecossistema de comunicação e negócios, a IA também redefina as relações econômicas e sociais nos próximos anos, moldada por estratégias de marketing que reforçam seu papel indispensável no futuro do trabalho e da vida cotidiana.