O ritual de iniciação tribal de 2025 para homens adolescentes na África do Sul, que inclui a circuncisão dolorosa, terminou em tragédia, resultando na morte de 39 jovens e deixando dezenas de meninos mutilados. Embora o governo tenha estabelecido uma meta de zero fatalidades este ano, o número é alarmante, especialmente considerando que, no ano anterior, 93 adolescentes perderam a vida, somando 361 mortes nos últimos cinco anos.
A tradição Xhosa e consequências trágicas
A cerimônia, conhecida como Ulwaluko, é uma prática ancestral entre os Xhosa, que simboliza a transição da infância para a vida adulta. Os meninos geralmente participam do ritual entre 16 e 26 anos. Sem essa experiência, eles são excluídos de reuniões tribais essenciais, atividades sociais e do casamento.
A necessidade de realização desse ritual pode levar a consequências terríveis. Em 2024, complicações graves resultaram em 11 amputações penianas, devido ao uso de instrumentos inadequados por “cirurgiões” tradicionais não qualificados. Estima-se que milhares tenham sido hospitalizados desde 2020 durante as duas temporadas anuais que culminam na circuncisão.
O papel das escolas de iniciação ilegais
O governo atribui a culpa a gangues criminosas que operam centenas de escolas de iniciação ilegais, onde “médicos” não treinados executam os procedimentos. Essas escolas muitas vezes ignoram a legislação, permitindo que jovens menores de 16 anos sejam submetidos ao ritual, cobrando preços elevados das famílias com resultados frequentemente fatais ou horríveis.
As causas de morte mais comuns incluem gangrena, septicemia e desidratação. Existem também relatos de meninos que desistiram do ritual e foram agredidos ou até mesmo mortos.
Infelizmente, há centenas de casos anuais de rapto de meninos tão jovens quanto 12 anos, que são levados para escolas de iniciação, onde passam pelo ritual e seus pais são extorquidos para que seus filhos voltem para casa.
Medidas do governo para resgatar a tradição
Apesar das vozes que clamam por proibições dessas práticas perigosas, muitos defendem a importância cultural do Ulwaluko na vida dos Xhosa. Com isso, a Lei de Iniciação Costumes foi criada para proibir a operação de escolas de iniciação não registradas, exigindo que todos os cirurgiões tradicionais sejam qualificados.
A polícia agora possui autoridade para fechar essas escolas ilegais e prender seus responsáveis. Anualmente, dezenas de milhares de meninos passam pelo ritual que perdura por gerações, mesmo diante da alta taxa de mortalidade.
A responsabilidade do governo e a pressão social
O governo, liderado pela ministra do Departamento de Governança e Assuntos Tradicionais, estabeleceu uma meta de zero mortes para 2025 em escolas registradas, enquanto atua para fechar as escolas ilegais. O chefe tribal Sipho Mahlangu, vice-presidente da Casa Nacional dos Líderes Tradicionais, revelou que 80% das mortes e mutilações ocorrem em escolas ilegais.
As condições extremas de desidratação, forçando os iniciantes a não beberem água após a circuncisão, são as principais razões para as tragédias. Apesar da escolha de participar do ritual, a pressão social é intensa e aqueles que se recusam a participar são frequentemente alvos de zombarias.
O jovem Scotty Dawka, de 19 anos, abordou a angústia emocional de se submeter ao ritual, mesmo após ter visto reportagens sobre amputações penianas. “Eu queria ser reconhecido como um homem na minha comunidade”, lamentou ele.
Iniciativas para um futuro mais seguro
O governo se comprometeu a reduzir pela metade o número de escolas ilegais que exploram os adolescentes até 2029. O ministro Velenkosini Hlabisi enfatizou que todas as escolas de iniciação devem se responsabilizar, e qualquer violação das leis será punida severamente.
Como afirmou: “Não podemos aceitar mais mortes. Devemos garantir que a jornada desses jovens para a vida adulta seja segura e digna.” Para muitos, essa expectativa parece distante, mas as novas regulações trazem uma luz de esperança em um processo longo e doloroso.
Em um mundo onde a tradição e a segurança devem coexistir, a luta continua para honrar a memória daqueles que já perderam a vida e para proteger os que ainda virão.