No mês de abril, celebra-se a conscientização global sobre os direitos das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Neste contexto, iniciativas que visam apoiar famílias de baixa renda com autistas se destacam, como um benefício que pode reduzir a conta de luz em até 65%. Contudo, ao mesmo tempo, mães de crianças autistas do Distrito Federal enfrentam desafios para matricular seus filhos em aulas de natação. Recentemente, algumas academias alegaram limitações em sua capacidade de atender mais de um aluno autista por turma, gerando discussões sobre inclusão e acessibilidade.
Desafios enfrentados por famílias de autistas no DF
Relatos de dificuldades para matrícula em atividades que promovem desenvolvimento e socialização vêm à tona. Alyni Macedo, mãe de uma criança autista, expressou frustração ao tentar inscrever o filho em uma aula de natação em Samambaia. A resposta da rede de academias foi de que já não tinham mais vagas disponíveis, evidenciando um dilema que muitas famílias enfrentam. Especialistas ressaltam que a inclusão de pessoas com TEA é um direito garantido por lei, embora ainda existam barreiras que precisam ser superadas.
Conforme a professora Carolina Gregorutti, doutora em educação e coordenadora da Rede Interuniversitária de Acessibilidade Cultural, a criação de ambientes inclusivos envolve mais do que aceitar a diversidade; trata-se de transformar esses espaços para que todos possam se beneficiar. “Os ambientes inclusivos não são apenas aqueles que toleram a diversidade, mas que se modificam a partir dela”, afirma.
A importância dos ambientes inclusivos
Embora o conceito de inclusão esteja ganhando força, ainda há um longo caminho a percorrer. Especialistas definem que, para que um ambiente seja verdadeiramente inclusivo, é necessário abordar três pilares: acessibilidade sensorial, acessibilidade comunicacional e acessibilidade atitudinal.
Acessibilidade sensorial
Pessoas autistas podem apresentar hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais. Para criar um ambiente acolhedor, é fundamental:
– Evitar luzes fortes ou intermitentes;
– Reduzir ruídos altos;
– Controlar a temperatura do ambiente;
– Utilizar cheiros suaves e não invasivos;
– Criar uma paleta de cores calmantes.
Quem conhece a realidade das crianças autistas defende que pequenas adaptações no ambiente, como o uso de iluminação indireta e cores suaves, podem fazer toda a diferença. A professora Gregorutti explica que entender as necessidades sensoriais de cada indivíduo é essencial para proporcionar um espaço que realmente acolha.
Comunicação acessível
A comunicação também deve ser adaptativa. As formas de interação variam amplamente entre pessoas autistas. Assim, é imprescindível:
– Oferecer recursos de comunicação alternativa, como pastas com figuras;
– Capacitar profissionais para reconhecer e respeitar diferentes modos de comunicação;
– Utilizar sinalização visual clara.
Acessibilidade atitudinal
Adaptações físicas, embora necessárias, não são o único aspecto a ser considerado. É vital que aqueles que trabalham no ambiente estejam preparados para lidar com a diversidade. Isso envolve:
– Respeito às particularidades de cada indivíduo;
– Formação continuada sobre autismo e neurodiversidade;
– Estabelecimento de uma cultura institucional que valorize a inclusão.
Exemplos de espaços inclusivos no DF
Felizmente, já existem alguns espaços adaptados no Distrito Federal que têm buscado promover a inclusão de pessoas autistas:
- Parque Nicolândia: Oferece acesso gratuito e uma pulseira VIP que garante lugar preferencial nas filas para pessoas autistas.
- Cine Brasília: O único cinema de rua do DF oferece a “Sessão Atípica”, com adaptações como luz acesa, volume reduzido e liberdade para circular na sala.
- Aeroporto Internacional de Brasília (Aeroporto JK): Membro do programa Sunflower, reconhece e apoia espaços inclusivos, com equipes preparadas para atender pessoas autistas.
- Centro de Ensino Fundamental 102 Norte: Esta escola pública se destaca pela equipe capacitada e por oferecer uma sala de regulação sensorial.
Esses exemplos mostram que, mesmo que ainda haja muitos desafios a serem enfrentados, é possível sim criar ambientes inclusivos e acolhedores. Isso não apenas promove a inclusão, mas também a conscientização sobre os direitos das pessoas autistas e como a sociedade pode auxiliar na construção de um mundo mais justo e acessível a todos.
Em abril, e em todos os outros meses, a luta pela inclusão deve ser constante, envolvendo não apenas as famílias, mas toda a sociedade.