Solicitada pela Embaixada do Brasil em Roma, a extradição da deputada Carla Zambelli (PL-SP) pode ter seu processo concluído só daqui a dois anos. Detida na capital italiana, Zambelli foi presa após ter seu nome incluído na lista vermelha da Interpol — que funciona como um mandado de prisão internacional. Ela foi transferida para a penitenciária feminina de Rebibbia, em Roma, na noite de ontem.
Como funciona o processo de extradição na Itália
A decisão sobre a extradição de Zambelli caberá inicialmente ao Ministério da Justiça da Itália, que tem a opção de arquivar o caso ou manter a prisão provisória. Se optar pela continuidade do processo, este seguirá para a Corte de Apelação de Roma, onde a Justiça italiana e a defesa da deputada apresentarão seus argumentos. A decisão ainda pode ser contestada na Corte de Cassação, que é a instância máxima do Judiciário italiano.
Mesmo com a aprovação da Justiça, a palavra final será dada pelo Ministério da Justiça italiano, que pode negar a extradição por motivos políticos. O governo atual da Itália, liderado por Giorgia Meloni, possui afinidade ideológica com parte da base de Zambelli, o que pode influenciar na decisão final.
Perspectivas e possíveis desdobramentos
Especialistas avaliam que o processo pode durar até dois anos, mas não se descarta a possibilidade de Zambelli ser libertada antes do término desse prazo, especialmente se surgirem entraves políticos. Os casos de extradição frequentemente envolvem longas disputas judiciais, o que foi evidenciado no caso do ex-ativista italiano Cesare Battisti no Brasil.
Zambelli deve passar por uma audiência de custódia nas próximas horas, onde será questionada se deseja permanecer na Itália ou voltar espontaneamente ao Brasil. Se a deputada optar por ficar, o juiz poderá decidir pela manutenção de sua prisão na penitenciária, pela conversão em prisão domiciliar ou ainda por permitir que ela aguarde o resultado do pedido de extradição em liberdade.
A parlamentar passou a noite em uma delegacia em Roma antes de ser transferida para Rebibbia, que é um dos maiores complexos prisionais da Europa.
Implicações políticas e reações
De acordo com a lei brasileira, a perda de mandato de Carla Zambelli terá de ser analisada pelo plenário da Câmara dos Deputados. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que cumprirá as determinações legais sobre o mandato da deputada, que terá a chance de se defender antes de qualquer decisão final pelo plenário.
Na quarta-feira, o ex-presidente Jair Bolsonaro evitou comentar a prisão de Zambelli diretamente e questionou se há censura no Brasil. Os filhos de Bolsonaro, Flávio e Eduardo, defenderam Zambelli, alegando perseguições políticas. O senador Flávio agradeceu ao vice-premiê italiano, Matteo Salvini, por prestar atenção à deputada.
Eduardo Bolsonaro expressou sua indignação em relação à situação, criticando o juiz Alexandre de Moraes, do STF, sancionado pelos EUA devido a violações de direitos humanos. A defesa de Zambelli alega que ela se apresentou voluntariamente às autoridades italianas após estar foragida e enfrentando uma condenação de dez anos de reclusão por falsidade ideológica e invasão de sistemas eletrônicos do Conselho Nacional de Justiça.
O desenrolar do caso de Zambelli teve grande repercussão nas redes sociais e nos meios de comunicação, trazendo à tona questões sobre a relação entre Brasil e Itália em contextos judiciais, além de provocar debates sobre a política interna brasileira e as possíveis repercussões que a extradição pode causar.