Berlim tem sido uma cidade reconhecida pela sua diversidade e aceitação da comunidade LGBTQ+, no entanto, essa imagem está sob ataque. Dentro do café Das Hoven, um letreiro neon exibe a mensagem “QUEER E AMIGOS”, simbolizando um espaço seguro, mas, infelizmente, também se tornou um alvo praticado por criminosos.
Aumento das agressões e do medo
De acordo com o proprietário Danjel Zarte, existem atualmente 45 investigações criminais envolvendo seu café, que abrangem desde ataques verbais e físicos a clientes e trabalhadores, até a depredação do estabelecimento – como janelas quebradas e pichações nazistas. Um episódio alarmante envolveu um indivíduo armado do lado de fora do local.
“É um ato de terror”, desabafa Zarte. “Às vezes, tenho ataques de pânico pela manhã e fico com medo de olhar meu celular, temendo que algo tenha acontecido novamente.”
Estatísticas alarmantes revelam que, no último ano, houve um aumento de 40% na violência contra a comunidade LGBTQ+ em 12 dos 16 estados da Alemanha, segundo a Associação de Centros de Apoio a Vítimas de Violência de Direita, Racista e Antissemitismo. Entretanto, muitos acreditam que esses dados não refletem a totalidade do problema, uma vez que muitas vítimas temem se apresentar.
O contexto da intolerância
Ativistas acreditam que o crescimento da extrema-direita na Europa, especialmente na Alemanha, contribui para esse aumento na hostilidade. O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) tem ganhado força nas eleições, e a violência contra o público LGBTQ+ tem se tornado um “tambor da guerra” para esse grupo.
Judith Porath, diretora da associação, observa que o extremismo de direita tem prosperado em parte por meio de demonstrações de ódio. “Verificamos um aumento significativo de manifestações e violências promovidas por neo-nazistas”, afirma.
Bastian Finke, da MANEO, uma organização que monitora a violência anti-gay em Berlim, ressalta que ser abertamente queer nas ruas da cidade automaticamente coloca os indivíduos em alto risco. “Estamos falando de ataques, insultos, até de pessoas sendo cuspidas. Esses cenários se repetem todos os dias,” diz Finke.
A alegria e a tensão no Christopher Street Day
O clima de medo estava presente na última edição do desfile Christopher Street Day, evento anual que celebra a luta pela igualdade e recorda a rebelião de Stonewall de 1969 em Nova York. Embora o evento tenha atraído centenas de milhares de pessoas, muitas relataram preocupações e nervosismo pelas provocações que poderiam enfrentar durante a comemoração.
“A atmosfera está tensa: as pessoas estão com medo e inseguras”, comentou Thomas Hoffmann, membro da diretoria executiva do evento. No entanto, o desfile trouxe um alívio para Danjel Zarte, que chorou de emoção por sentir-se aceito, mesmo que por um breve momento.
“É muito tocante sentir que você é completamente aceito uma vez por ano”, disse Zarte.
A necessidade de mudanças legislativas
Hoffmann e outros ativistas esperam que os legisladores alemães façam emendas na constituição para incluir explicitamente a proteção legal da comunidade LGBTQ+ contra discriminação baseada em identidade de gênero. Contudo, essa mudança parece distante dos atuais interesses políticos.
Com o aumento contínuo dos crimes de ódio e a pressão política crescente, a luta por segurança e reconhecimento da comunidade LGBTQ+ na Alemanha permanece um desafio significativo. Um desafio que se torna ainda mais premente em um cenário onde espaços seguros como o Das Hoven enfrentam constantes ameaças.
Assim, enquanto a comunidade continua a lutar por seus direitos e reconhecimento, a necessidade de um apoio forte e proativo da sociedade e dos legisladores brasileiros se torna cada vez mais evidente.