O Brasil continua sendo considerado um país de energia barata, mas a conta de luz tem crescido de forma significativa nas últimas décadas. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Comercializadores de Energia (Abraceel), a tarifa de energia elétrica dos brasileiros aumentou 177% em 15 anos, enquanto a inflação no mesmo período foi de 122%. Esse fenômeno é resultado de diversos fatores, incluindo subsídios, furtos de energia e mudanças legislativas.
Impactos dos projetos legislativos e “jabutis” na tarifa de energia
Pontos aprovados pelo Congresso, especialmente em projetos relacionados à energia eólica offshore, tiveram forte impacto nas tarifas. Foram instituídas obrigações de contratação que elevam os custos, os chamados “jabutis”, que são temas adicionados às propostas por interesses específicos. Apesar de o presidente Lula ter vetado esses trechos, parte dos vetos foi derrubada, aumentando o impacto fiscal.
Segundo o governo, a estimativa de custos adicionais soma cerca de R$ 35 bilhões, mas uma nova medida provisória busca reduzir esse valor para R$ 11 bilhões. A questão permanece em debate entre parlamentares e o Executivo, com uma proposta de compensação que pode chegar a R$ 49,2 bilhões em recursos públicos, pagos pelos próprios consumidores de energia em 2025.
Custos e subsídios: desigualdade no setor elétrico brasileiro
Victor Hugo Iocca, diretor de Energia Elétrica da Abrace, ressalta a disparidade no subsídio entre ricos e pobres. “O brasileiro rico, que tem painel solar e carro elétrico importado, é subsidiado em mais de R$ 1.200 por mês, enquanto um brasileiro pobre recebe cerca de R$ 60”, afirma. Essa desigualdade amplia o dilema sobre o impacto social das políticas tarifárias.
Atualmente, a energia solar representa 22% da matriz elétrica, sendo a segunda maior fonte de geração no país, com pelo menos cinco milhões de imóveis produzindo sua própria eletricidade fotovoltaica. O setor evitou, até aqui, a emissão de 66,6 milhões de toneladas de gás carbônico.
Perdas, furtos e custos extras
Outro fator que encarece a energia no Brasil são as perdas não técnicas, que incluem fraudes e furtos, responsáveis por um custo de aproximadamente R$ 10,3 bilhões anualmente. Estados como Rio de Janeiro e Amazonas apresentam os maiores índices de furto de energia, segundo a Aneel. João Mello, CEO da Thymos Energia, atribui parte dessa limitação à atuação de organizações criminosas que dificultam a entrada das distribuidoras em certas áreas.
Eventos climáticos extremos também agravaram os custos do setor em 2024. Houve cerca de 65 mil ocorrências de incêndios que provocaram interrupções, além da seca, que impacta a geração hidrelétrica e leva à utilização de usinas termelétricas mais caras e poluentes.
Perspectivas futuras e desafios no setor elétrico
Especialistas alertam que o crescimento desenfreado do custo da energia demanda investimentos contínuos. Marcos Madureira, presidente da Abradee, destaca que administrar o aumento da demanda após as 17h, que chega a cerca de 40 gigawatts, é um grande desafio para o sistema elétrico brasileiro.
Segundo analistas, a ampliação de subsídios e o impacto de projetos legislativos devem continuar influenciando o preço final da energia, enquanto o setor busca equilibrar custos, sustentabilidade e justiça social.
Mais detalhes podem ser conferidos na matéria completa no site do Globo.