O perfil da crise humanitária em Gaza revela uma cena alarmante de fome, com impacto devastador na saúde de crianças e adultos, a ponto de se configurar como uma emergência de saúde pública. Segundo o aviso do Classification of Food Security, a situação de fome na região atingiu níveis sem precedentes, levando a um aumento expressivo de mortes relacionadas à desnutrição e doenças associadas.
Impacto na saúde infantil e a resposta médica
Dados do Programa de Segurança Alimentar indicam que, entre abril e julho deste ano, mais de 20.000 crianças foram atendidas por episódios de malnutrição aguda, com mais de 30.000 classificadas como severamente desnutridas. Desde o início do conflito, pelo menos 88 crianças já morreram por causas relacionadas à fome, de acordo com informações do Ministério da Saúde de Gaza.
A médica e epidemiologista Dr. Aqsa Durrani, que passou dois meses no território trabalhando com Médicos Sem Fronteiras, relata condições extremas: “Atualmente, os hospitais funcionam com uma refeição a cada dois ou três dias, muitas vezes composta apenas por arroz ou lentilhas, sem proteínas suficientes ou vegetais.” Ela descreve um cenário de sofrimento psicológico, com mães e crianças compartilhando uma única porção de comida diária e vivendo sob o risco constante de morte por desnutrição.
Respostas e desafios na linha de frente
Especialistas como a conselheira de nutrição da CARE, Abyan Ahmed, destacam que a gravidade dos efeitos da fome varia conforme o estado nutricional prévio das pessoas. Crianças já desnutridas podem apresentar deterioração rápida, enquanto adultos com peso normal ou acima do peso podem resistir por semanas ou meses, dependendo do acesso a refeições intermitentes.
O corpo entra em modo de sobrevivência, reduzindo funções vitais como digestão, crescimento e reprodução. O organismo começa a consumir suas reservas de gordura, órgãos, músculos e ossos, resultando em riscos de infecção, como pneumonia, diarreia, sarampo e sepse. Além disso, o estado de desnutrição compromete o sistema imunológico, tornando as pessoas vulneráveis a doenças que podem ser fatais.
Consequências físicas e mentais a curto prazo
Para as crianças, os efeitos da fome não são apenas físicos, mas também mentais e comportamentais. “Elas ficam irritadas, letárgicas e apáticas, exibindo sinais de sofrimento que vão além do físico”, explica Dr. Deborah Frank, especialista em saúde infantil. “O sinal do sorriso, por exemplo, indica que a criança está melhorando, podendo começar a receber alimentação adequada.”
Na situação atual, o cenário é de uma emergência múltipla: a fome provoca sofrimento físico e psicológico, comprometendo o desenvolvimento e o bem-estar de toda uma geração. Os especialistas reforçam a necessidade de ações rápidas e coordenadas para evitar que essa crise se torne ainda mais devastadora para a população de Gaza.