Na cidade de Presidente Dutra, na Bahia, o processo de justiça finalmente chegou ao fim para a militante trans Bárbara Trindade. Após um longo período de incertezas e sofrimento, Paulo Roberto Ferreira Machado, ex-policial militar, foi condenado a 14 anos de prisão pelo ataque a tiros que deixou Bárbara sem os movimentos nos braços e nas pernas. O julgamento aconteceu entre os dias 29 e 30 de julho de 2025, no Fórum da Comarca de Irecê.
A condenação e os detalhes do julgamento
No tribunal, Paulo Roberto foi considerado culpado pela tentativa de homicídio com motivo torpe e pelo uso de meio que dificultou a defesa da vítima. A Justiça negou a ele o direito de recorrer em liberdade, ordenando que fosse encaminhado ao Conjunto Penal de Irecê. Durante o julgamento, a defesa de Domingos Mendes Machado, que inicialmente foi apontado como suspeito, conseguiu provar sua inocência. Ele havia passado oito meses preso, acusado erroneamente pelo crime.
Domingos, apontado por Bárbara como o executor dos disparos, teve sua inocência ratificada pela Justiça, que afirmou que ele não teve envolvimento no crime. Familiares de Domingos relataram que o verdadeiro responsável pelo ataque, Paulo Roberto, havia se aproveitado de um relacionamento anterior com a vítima para arquitetar o crime. Eles afirmaram que ele criou um perfil falso em um aplicativo de mensagens, usando a foto e o nome de Domingos, para se comunicar com Bárbara.
Os antecedentes do crime
O ataque ocorreu em 2 de abril de 2017 e, segundo a denúncia, foi uma represália ao vazamento de uma foto íntima da vítima com o ex-policial. Bárbara, em declarações anteriores, explicou que havia marcado um encontro com Domingos. Ela escolheu um local público, a Câmara Municipal de Presidente Dutra, para se sentir mais segura. No entanto, ao perceber a presença de uma motocicleta com dois homens, ela hesitou. O primeiro disparo atingiu seu maxilar e, quando tentou reagir, foi ferida novamente nas costas.
Em um relato angustiante, Bárbara contou que jamais esperou passar por uma experiência tão violenta e que as consequências do ataque mudaram sua vida para sempre. “Eu nunca pensei que um encontro poderia resultar em um momento tão trágico. Esse crime não foi apenas contra mim, mas uma agressão a toda a comunidade LGBTQIA+”, afirmou.
Repercussões e apoio à comunidade LGBTQIA+
A condenação de Paulo Roberto foi recebida com alívio por muitos ativistas que lutam pelos direitos da comunidade trans e LGBTQIA+ no Brasil. O caso de Bárbara Trindade se tornou um símbolo de resistência contra a violência e a discriminação que muitos indivíduos enfrentam por sua identidade de gênero.
Organizações de direitos humanos e grupos LGBT+ intensificaram seus esforços para promover a segurança e a inclusão de pessoas da comunidade, enfatizando a necessidade de políticas públicas mais efetivas e apoio psicossocial. “É um sinal de que a justiça pode, sim, ser feita. Contudo, ainda temos muito a lutar para garantir que isso não volte a acontecer com ninguém”, declarou um representante de uma organização local.
O papel da mídia e da sociedade
Esse caso também suscita reflexões sobre o papel da mídia e da sociedade em lidar com histórias de violência e discriminação. A cobertura sobre o caso de Bárbara Trindade trouxe à tona questões sobre a violência contra pessoas trans e a necessidade de um olhar mais atento e cuidadoso por parte da imprensa. Mais do que apenas relatar os eventos, é essencial que a mídia contribua para a desmistificação de preconceitos e promova narrativas que humanizem as vítimas.
A história de Bárbara e a recente condenação de seu agressor devem servir como um lembrete sobre a importância do respeito e da aceitação em uma sociedade plural. O apoio à comunidade LGBTQIA+ é mais do que necessário; é urgente em um tempo onde muitos ainda enfrentam injustiças e preconceitos diariamente.
O caminho para a igualdade e respeito passa por cada um de nós, e a condenação de Paulo Roberto é um passo significativo nessa luta.
Para mais informações sobre casos como esse e a luta pelos direitos humanos, acompanhe as próximas reportagens do g1 Bahia e outros veículos de imprensa comprometidos com uma cobertura responsável e ética.