O Brasil prevê investir pelo menos R$ 597 bilhões em novas plantas de geração de energia renovável e redes de transmissão até 2034, segundo projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A iniciativa faz parte da estratégia do país para liderar a transição energética global, ampliando a participação de fontes sustentáveis na matriz elétrica.
Transformação na composição do sistema elétrico brasileiro
Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indicam que, até 2029, a capacidade de geração com fontes eólicas, solares e de biomassa deverá subir de 41,4% para 41,7%, enquanto a hidroeletricidade recuará de 44,8% para 40,4%. Essa mudança revela uma diversificação na matriz energética, com maior presença de energias renováveis.
Foco na expansão de projetos solares
A expansão das fontes renováveis será liderada pelos projetos solares, que incluem grandes parques e usinas em telhados residenciais, a chamada microgeração distribuída, conforme o ONS. Especialistas alertam, porém, que o aumento de energias intermitentes traz desafios de resiliência ao sistema, que deve recorrer às hidrelétricas e termelétricas a gás nos momentos de maior pico de consumo, principalmente no início da noite.
Potencial do Brasil na transição energética global
Durante a realização da COP30, em Belém, a EPE destacou que a matriz energética renovável representa um ativo para atrair investimentos internacionais, especialmente de empresas preocupadas com a redução da pegada de carbono. As oportunidades de captação de recursos reforçam o papel do Brasil como líder na área de energia limpa.
Investimentos estratégicos e diversificação da geração
O investimento total em geração e transmissão de energia contempla R$ 352 bilhões na geração centralizada, incluindo hidrelétricas, parques solares e eólicos, além de pequenas centrais hidrelétricas. Outras áreas com destaque são os projetos de geração distribuída, que englobam solar e biomassa, com aportes de R$ 117 bilhões, e a expansão da transmissão, com R$ 129 bilhões.
Além da geração de energia, há um impulso em armazenamento via baterias, que devem ganhar leilões específicos neste ano, além de avanços na energia eólica offshore e no desenvolvimento do hidrogênio, especialmente via fontes solar e eólica. Especialistas acreditam que o hidrogênio verde poderá ser uma solução a longo prazo para armazenar energia excedente, especialmente para setores de difícil eletrificação, como transporte pesado e indústrias.
Desafios e perspectivas futuras
O crescimento expressivo do setor renovável traz desafios relacionados à estabilidade do sistema elétrico. O diretor de Planejamento do ONS, Alexandre Zuracato, reforça a necessidade de realizar leilões anuais de energia para garantir a oferta de potência, principalmente nos horários de pico, quando a geração solar diminui.
Grandes empresas, como a Enel e a Eletrobras, ampliam seus investimentos em energia renovável. A Enel, por exemplo, dobrou sua capacidade instalada no Brasil desde 2019, atingindo mais de 6,6 GW com projetos eólicos e solares. A Eletrobras, por sua vez, investe na modernização de ativos e na expansão de linhas de transmissão, com foco na região Nordeste, estratégica para fontes renováveis.
Perspectivas de crescimento e inovação
Projetos de armazenamento com baterias, aumento da geração eólica offshore e o avanço do hidrogênio verde consolidam o Brasil como protagonista na transição energética. Contudo, a adoção dessas tecnologias ainda enfrenta obstáculos como custos elevados, falta de legislação específica e limitações na infraestrutura, que exigem políticas públicas consistentes para acelerar a escala dessas iniciativas.
De acordo com a sócia de Energia do BMA, Bruna Correia, a produção de hidrogênio verde se demonstra uma oportunidade estratégica, especialmente para explorar o potencial de exportação, como no hub de Pecém, no Ceará. Ainda assim, ela ressalta que a escalabilidade dependerá de maior estabilidade regulatória e de investimentos em inovação tecnológica.
Ao longo desta década, o Brasil reforça seu compromisso de ampliar a participação das energias renováveis na matriz elétrica, consolidando-se como líder na transição energética global e atraindo investimentos nacionais e internacionais para um futuro mais sustentável.
Fonte: O Globo