O setor cafeeiro brasileiro enfrenta uma crescente preocupação com as altas tarifas aplicadas a produtos de café solúvel em diversos mercados, além dos Estados Unidos. Essas barreiras tarifárias dificultam a competitividade do Brasil na exportação do produto, que representa um segmento de alto valor agregado e grande potencial de crescimento.
Impacto das tarifas e estratégias comerciais do setor
Atualmente, o Brasil exporta cerca de quatro milhões de sacas de café solúvel, menos de 10% das mais de 45 milhões de sacas embarcadas na safra 2024/25. Mesmo com essa participação, as tarifas elevadas — que chegam a 49% em alguns países — reduzem significativamente a margem de lucro e limitam a presença brasileira em mercados emergentes, especialmente na Ásia.
Segundo Márcio Candido Ferreira, presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o produto brasileiro sofre com barreiras comerciais principalmente na Alemanha, China, Coreia do Sul, Indonésia, Tailândia e Malásia. “Essas tarifas tornam praticamente inviável a competição nesses mercados”, afirma. Ferreira destaca ainda que muitos cafés solúveis brasileiros, após saírem do país com menor valor agregado, ganham valor em fábricas concorrentes e são exportados como produtos de origem estrangeira, prejudicando a cadeia produtiva nacional.
Medidas judiciais e ações junto ao governo
Para combater essa situação, o setor já avalia ações na Justiça dos Estados Unidos, do Brasil e em tribunais internacionais, após a implementação do decreto americano que inclui o café solúvel brasileiro na lista de produtos tarifados pelo país. Segundo fontes ouvidas no setor, a disputa jurídica será uma das saídas para tentar reverter ou mitigar os efeitos das tarifas americanas, que vêm impactando as exportações brasileiras.
Negociações e desafios no mercado internacional
Profissionais do setor reforçam a necessidade de ampliar as negociações comerciais para redução ou isenção de tarifas em outros países. A Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) informa que, antes mesmo dos Estados Unidos, países como Vietnã, México e Colômbia já aplicavam tarifas elevadas ao café brasileiro, chegando a 49%. Isso inviabiliza a competição nesses mercados, principalmente na Ásia, onde há forte crescimento no consumo de café instantâneo.
Fabio Sato, presidente da Abics, lembra que o Vietnã possui 13 fábricas de café solúvel, enquanto o Brasil tem apenas sete, refletindo o impacto destas barreiras tarifárias. Para ele, acordos comerciais, como o de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, podem incrementar em até 20% as vendas do produto brasileiro, uma oportunidade importante que exige esforços internos e acordos internacionais.
Importância da infraestrutura e possibilidades futuras
Além da questão comercial, os empresários destacam a necessidade de melhorias na infraestrutura logística do país para reduzir custos e agregar valor ao produto. Atualmente, o Brasil não pode importar café, exceto do Vietnã, o que limita a produção de blends e a competitividade do setor.
Segundo Sato, “é fundamental investir em infraestrutura e estabelecer acordos que facilitem a entrada de cafés de outros países para melhorar o mercado interno e facilitar o desenvolvimento do setor”.
Perspectivas e próximos passos
O setor busca, neste momento, fortalecer a atuação junto ao governo brasileiro, ampliando a pauta de negociações internacionais e buscando a redução de tarifas em diferentes mercados. Enquanto isso, a disputa judicial e as ações diplomáticas continuam como estratégias essenciais para garantir a competitividade do café solúvel brasileiro no cenário global.
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