Recentemente, a Exposição “Barroco Global: o mundo em Roma no tempo de Bernini” foi concluída nas Scuderie do Quirinal, em Roma. Esta mostra trouxe à tona figuras relevantes do passado, incluindo António Manuel Ne Vunda, primeiro Embaixador da África junto da Santa Sé, enviado pelo Reino do Congo em uma missão diplomática no século XVII. Esse importante evento cultural foi comentado pelo atual embaixador de Angola na Santa Sé, Dr. Carlos Alberto Fonseca, em sua crônica para o programa “África em Clave Cultural: personagens e eventos”.
A importância do Reino do Congo na diplomacia com a Santa Sé
Poucos conhecem a audaciosa iniciativa do Rei Mpangu-a-Nimi Lukeni Iua Mvemba, também conhecido como Dom Álvaro II, que em 1604 enviou uma delegação de vinte e cinco pessoas, liderada pelo Príncipe António Manuel N’Vunda, para estabelecer relações diplomáticas com a Santa Sé. A missão durou até janeiro de 1608, quando chegaram a Roma. Infelizmente, a viagem foi trágica; muitos membros da delegação sucumbiram pelo caminho, e o príncipe, que chegou gravemente doente, morreu logo após uma audiência com o Papa Paulo V.
O túmulo de Ne Vunda, localizado na Basílica de Santa Maria Maior, é um marco de sua importância histórica, enfeitado por um busto restaurado a pedido do Papa Francisco para a Exposição “Barroco Global”. Esta mostra, realizada juntamente com a Galeria Borghese e várias instituições de prestígio, teve como objetivo destacar a diversidade cultural de Roma na época, capturando a relação entre a cidade e nações africanas, asiáticas e americanas.
As contribuições artísticas da exposição
Os visitantes da Exposição tiveram a oportunidade de contemplar obras de mestres do Barroco, como Gian Lorenzo Bernini e Pietro da Cortona, que revelaram a interação entre diversas culturas e a riqueza da arte daquele tempo. Entre os destaques da mostra, o busto em mármore polido de Ne Vunda, retratando suas características físicas com precisão e dignidade, não passou despercebido.
O Dr. Fonseca, ao discutir a relevância do príncipe na diplomacia contemporânea, enfatizou o legado de Ne Vunda como um modelo de diplomacia africana. Sua viagem e o estabelecimento de laços diretos com a Santa Sé simbolizam um desejo de autonomia e dignidade para o Reino do Congo frente à hegemonia portuguesa da época.
Ne Vunda e a construção de um legado
O entregador da missão, António Manuel Nsaku Ne Vunda, era um homem de destaque. Nascido em uma família nobre do Congo, foi escolhido por sua fé, integridade e habilidade de se comunicar eloquentemente em várias línguas. Sua missão era clara: expressar a adesão do Reino do Congo à Igreja Católica e solicitar o direito de nomear bispos locais, um passo crucial para estabelecer um clero sob controle congolese em vez da influência portuguesa.
A jornada foi marcada por dificuldades. Ne Vunda e sua delegação enfrentaram piratas, doenças e uma viagem longa e incerta que se estendeu por quase três anos. Sua determinação, no entanto, permitiu que ele chegasse a Roma e cumprisse a missão, apesar de suas condições debilitadas de saúde.
Comemorações e reconhecimento
O legado de António Manuel Ne Vunda é homenageado não apenas em Angola, mas no mundo todo, refletindo a importância dos laços entre a Igreja e a África. Em 2026, um evento internacional será organizado para celebrar a vida e a contribuição do embaixador, reforçando seu papel como um símbolo de diplomacia e solidariedade entre continentes.
Além disso, a República de Angola lançou um selo comemorativo em homenagem a este pioneiro da diplomacia africana, reforçando o desejo de lembrar e valorizar sua contribuição para a história e as relações internacionais.
Essa jornada não é apenas uma recordação do passado, mas uma fonte de inspiração para os líderes contemporâneos, destacando a importância de conexões diretas e da autonomia entre nações. À medida que o mundo avança, a história de António Manuel Ne Vunda serve como um poderoso lembrete do potencial transformador da diplomacia.
Para mais informações sobre a exposição e sobre António Manuel Ne Vunda, consulte o link da fonte.