Brasil, 31 de julho de 2025
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“That made me really angry”: reação de uma trabalhadora do sexo sobre o filme “Anora”

Ao acompanhar o sucesso de “Anora”, filme dirigido por Sean Baker e estrelado por Mikey Madison, muitos espectadores celebraram sua narrativa ousada e visuais impactantes. No entanto, para algumas profissionais do ramo, a ficção revela uma desconexão com a experiência real, despertando sentimentos de frustração e indignação.

Críticas à autenticidade da representação

Emma*, uma acompanhante e dançarina de Manhattan, afirma que encontrou pontos de precisão nas primeiras cenas do filme, como o ambiente de clube de strip tease. Contudo, ela destacou que a maneira como a personagem Ani é retratada, especialmente a sua sexualidade excessiva após o casamento, reforça uma narrativa masculina que ela considera distorcida.

“Quando vejo ela sempre muito excitada, achei que poderia ser real. Mas logo percebi que aquilo é uma fantasia, uma construção para o interesse masculino”, explica Emma. Segundo ela, essa representação reforça a ideia de que o sexo na profissão é apenas trabalho, e que essa persona deve sempre ser mantida, mesmo em relacionamentos.

Sentimentos de raiva e frustração

O principal sentimento de Emma ao assistir ao filme foi a raiva, sobretudo pela forma como ela percebe que a personagem acaba sendo romantizada após o casamento, deixando de lado sua autonomia e a realidade das mulheres na indústria. “Por que mostrar ela dependente de um homem que mal conhece, ao invés de sua própria força financeira?”, questiona.

Ela também critica a representação de Ani como alguém ingênuo, assumindo uma vulnerabilidade que ela acha falsa. “Nós sabemos que somos substituíveis, sempre na mira de clientes que acham que podem se dar o direito de nos tratar como quiserem”, afirma, ressaltando a percepção de que muitos homens se sentem “no direito” de exigir mais informações pessoais ou de esperar algo mais que o pagamento.

Percepções sobre relacionamentos e impactos culturais

Emma enfatiza que muitos jovens homens ainda interpretam o ambiente de clubes de strip como um espaço de potencial relacionamento romântico, o que ela considera perigoso e irreal. “Eles acham que vão conquistar a gente, que vai haver uma conexão emocional, mas a gente sabe que tudo é uma questão de dinheiro e de apresentação.”

Ela destaca ainda que a narrativa do filme reforça essa visão, mostrando uma personagem que acredita que o amor pode surgir de uma relação baseada no trabalho sexual, o que ela vê como uma visão distorcida e perigosa.

Reação ao final do filme e reflexões finais

Quanto ao desfecho, em que Ani parece emocionalmente perdida, Emma revela sua decepção. “Para mim, a cena final no carro não representa uma narrativa realista da vida de uma trabalhadora do sexo, que geralmente busca manter sua autonomia ao invés de se render a emoções que ela não sente de verdade.”

Ela conclui que o filme, embora bem produzido, muitas vezes se apoia na fantasia de um “conto de fadas” sombrio, deixando de mostrar a força, inteligência e resiliência das mulheres que atuam na indústria de forma realista. “As pessoas lucram com o sofrimento fictício, mas a nossa verdade é muito mais complexa e forte do que isso.”

*Nome fictício para preservar a identidade da entrevistada.

*Este artigo reflete a opinião de uma profissional do setor e busca contribuir com uma perspectiva mais autêntica sobre a arte e a vivência na indústria do sexo, questionando a romanticização e os estereótipos presentes no cinema.

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