O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (30) um decreto que impõe uma tarifa de 40% sobre produtos brasileiros, somando-se aos 10% já aplicados em abril, totalizando 50% de sobretaxa. Entre os poucos alimentos que entram na lista de exceções estão o suco de laranja e a castanha do Brasil, que permanecem livres dessas tarifas, segundo informações de fontes no setor.
Quem paga a conta: exportações de suco de laranja e dependência mútua
Com a isenção do suco de laranja, as sobretaxas aplicadas por Trump ainda representam uma ameaça significativa ao setor brasileiro. Segundo Leonardo Munhoz, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Bioeconomia, o imposto de 10% continua vigente para a maioria dos produtos exportados ao país.
Wharlhey Nunes, analista da consultoria Agro do Itaú BBA, explica que, para o suco de laranja, há também uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada, o que, na prática, eleva ainda mais os custos de exportação. “Estamos casados com os americanos e eles com a gente, para o bem e para o mal”, afirma Ibiapaba Netto, diretor da CitrusBR, destacando a dependência mútua entre Brasil e EUA.
Impactos na cadeia produtiva e cenário de crise
O Brasil responde por cerca de 70% da produção mundial de suco de laranja, sendo responsável por aproximadamente 3 milhões de litros vendidos nos EUA. Com a diminuição da produção doméstica devido a furacões, temperaturas extremas e a presença da doença greening, os EUA passaram a depender ainda mais do suco brasileiro.
Segundo Netto, a exceção ao suco de laranja na lista de produtos isentos de tarifa é uma estratégia para proteger as empresas norte-americanas. Entretanto, a medida deve agravar as perdas do setor brasileiro, que estimava prejuízos de até R$ 4,3 bilhões anuais sem a exportação ao mercado norte-americano.
Pandemia na produção americana e crise do greening
Nos Estados Unidos, a safra de laranja enfrenta sua pior fase em 40 anos, com a colheita de 2024/2025 prevista como a menor desde 1986. A combinação de furacões, temperaturas extremas e a doença greening — causada por uma bactéria transmitida por insetos — reduziu drasticamente a qualidade e quantidade do produto.
O estado da Flórida, que responde por 90% da produção de suco do país, registrou uma retração de 28% na safra atual. Como consequência, os preços do suco de laranja dispararam, atingindo US$ 4,49 por 473 ml em fevereiro, valor recorde, o que pode piorar diante do cenário de crise.
Recuperação brasileira e perspectivas futuras
Apesar dos impactos, o Brasil projeta uma safra maior na temporada 2025/2026, com aumento de 36% na produção e crescimento de 8% no volume de suco, impulsionado pela melhora nas condições climáticas e pelo menor impacto do greening. Segundo o Itaú BBA, o país deve responder por cerca de 70% da produção mundial neste ano, recuperando estoques históricos.
O volume de suco enviado aos EUA, contudo, pode não comportar a crescente demanda, e o setor brasileiro já busca diversificar mercados, apesar de limitações devido à renda per capta de países consumidores. O Brasil possui infraestrutura própria para exportação aos EUA, como terminais e navios, o que favorece sua posição no mercado.
Especialistas alertam que a dependência do mercado norte-americano representa um risco contínuo para o setor de suco, que enfrenta obstáculos complicados pela baixa safra e por um cenário de tarifação elevado.
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