A prisão da deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) na última terça-feira (29) é o capítulo final de uma errática fuga do Brasil, que começou após ser condenada a dez anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Zambelli, que passou por três países e até prometeu uma campanha contra a Corte na Europa, agora enfrenta a possibilidade de extradição após se considerar “intocável” na Itália.
A fuga e os planos de Zambelli
No dia 3 de junho, durante uma entrevista à rádio bolsonarista Auriverde, Zambelli revelou que decidira deixar o Brasil a conselho do blogueiro Allan dos Santos. Ela anunciou que iniciaria uma ofensiva contra o STF nos moldes da campanha realizada por Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que lutou por sanções e apoio de Donald Trump contra instituições brasileiras.
A deputada insinuou que já estava na Europa no momento da entrevista, enquanto ainda se encontrava nos Estados Unidos, pois só admitiu estar fora do Brasil horas depois. Ela justificou sua fuga para a Itália pela sua cidadania italiana, acreditando que, assim, se tornaria “intocável” no país europeu.
No entanto, essa ilusão de segurança rapidamente desmoronou. Zambelli deixou o Brasil no dia 25 de maio, atravessando a fronteira com a Argentina em Foz do Iguaçu (PR), onde não há controle migratório. De lá, seguiu para os EUA, onde deu entrevistas prometendo movimentar-se na Europa.
Problemas legais e a prisão na Itália
Após chegar à Itália em 5 de junho, foi nomeada na lista da Interpol, o que tornou sua situação crítica de segurança. A pressão crescente de autoridades italianas, acompanhada pela falta de apoio político na Europa, resultou em sua prisão, que foi confirmada pelo deputado italiano Angelo Bonelli.
De acordo com informações, sua detenção ocorreu após ser acusada de tentar se evadir da Justiça italiana. Zambelli, então, apresentou-se como alguém que buscou se entregar voluntariamente à polícia, mas essa versão é contestada por fontes do Itamaraty, aumentando a complexidade do caso.
Enquanto aguardava a possibilidade de retorno ao Brasil ou uma possível extradição, sua equipe jurídica passou por mudanças significativas. O advogado Daniel Bialski deixou a defesa, dando lugar a Fabio Pagnozzi, que está focado na questão de evitar a extradição e explorar a possibilidade de cumprir a pena na Itália.
A situação política e as repercussões
A prisão de Zambelli não apenas afeta sua vida pessoal, mas também leva a repercussões políticas. No Brasil, sua decisão de fugir e as tentativas de se posicionar como uma defensora da liberdade de expressão nos parlamentos europeus não ganharam o impulso esperado, visto que nenhuma liderança política das potências europeias se manifestou em seu apoio.
Zambelli também teve que lidar com uma série de desdobramentos em seu mandato. Enquanto estava foragida, o prazo para desocupar seu apartamento funcional em Brasília expirou, resultando em multas e complicações adicionais, inclusive multas que superam R$ 7 mil.
Por fim, durante sua fuga, Zambelli gravou um vídeo convocando apoiadores para atos bolsonaristas, demonstrando que, apesar de sua situação legal delicada, ainda buscava manter uma base de apoio no Brasil, mesmo que de forma limitada e conturbada.
Com a prisão e a iminente extradição, uma nova etapa se inicia não apenas para Zambelli, mas também para o cenário político brasileiro, onde a polarização e as disputas legais referentes a figuras públicas políticas permanecem no centro das atenções.
As implicações da prisão de Zambelli são profundas e podem afetar não apenas seu futuro político, mas também a forma como a Justiça é percebida no Brasil, especialmente em relação à incidental relação entre política e Justiça.
