A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a política nacional estão sendo sacudidas por uma operação da Polícia Federal (PF) que investiga a suposta compra de votos em Roraima. O presidente da CBF, Samir Xaud, e a deputada federal Helena da Asatur (MDB-RR) são dos principais alvos da investigação, que levou agentes a cumprirem 10 mandados de busca e apreensão em endereços no estado e no Rio de Janeiro. As investigações resultaram também no bloqueio de R$ 10 milhões das contas dos investigados, aumentando a pressão sobre os dois e colocando em destaque práticas de suposta corrupção eleitoral no cenário político brasileiro, especialmente na região Norte do país.
A atuação controversa de Helena da Asatur
Este não é o primeiro episódio polêmico envolvendo a deputada Helena da Asatur. Ela foi alvo de críticas ao fazer publicidade de sua imagem e atividade parlamentar em clubes de futebol no estado, o que pode configurar crime eleitoral. A federação roraimense de futebol é presidida por seu pai, Zeca Xaud, que atuou como gestor estadual por cerca de dois anos antes de Samir Xaud assumir a CBF em maio deste ano. A proximidade familiar entre os dois gera desconfiança acerca da separação entre política e esporte.
Patrocínios e publicidades questionáveis
Um dos clubes imediatamente associados à deputada é o Grêmio Atlético Sampaio (GAS), atual bicampeão estadual. Durante a última edição do campeonato, o time veiculou a logomarca “Helena Deputada Federal” em suas camisas, tanto nas mangas quanto na parte traseira. Essa prática foi interrompida após uma reportagem que revelou a situação. A utilização da imagem de Helena na camisa do clube levanta questionamentos sobre a legalidade e a ética do uso do esporte para fins políticos.
A presença de empresas ligadas à deputada, como Asatur (transporte rodoviário) e Voare (táxi aéreo), como patrocinadoras do GAS, traz à tona discussões sobre abuso de poder econômico e a utilização de recursos financeiros para benefício eleitoral. Guilherme Barcelos, doutor em Direito Constitucional, explica que a promoção da imagem de um agente político por meio de patrocínios de clubes pode ser considerada uma violação da legislação eleitoral.
Clubes como plataformas políticas
O Atlético Roraima também foi patrocinado pela Asatur, mostrando que a associação entre clubes de futebol e figuras políticas vai além do GAS. O nome “Helena Deputada Federal” estava estampado na parte da frente das camisas do Atlético, algo que é considerado um dos espaços mais nobres, de maior visibilidade. Essa estratégia de marketing político levanta diversas discussões sobre a linha tênue entre o patrocínio legítimo e a utilização ilícita de recursos para promoção política.
Helena Lima defende sua postura, afirmando que seu nome constava nos uniformes em reconhecimento simbólico, o que contraria a percepção de captação indevida de votos. Contudo, o uso de tais táticas leva a um debate sobre como o futebol pode ser instrumentalizado dentro do cenário político e eleitoral do estado.
O impacto da operação da PF
A operação que culminou na prisão de Renildo Lima, marido da deputada, trouxe à tona ainda mais a gravidade da situação. Lima foi preso com dinheiro escondido em sua cueca, o que levantou alarmes sobre as práticas de compra de votos em Roraima. A investigação inicial ocorreu após denúncias que ligavam o casal a irregularidades eleitorais.
A CBF, em uma nota oficial, afirmou que a operação não está relacionada à confederação ou ao futebol brasileiro, ressaltando que o presidente Samir Xaud não é o foco das investigações. Entretanto, isso não diminui a tensão e as incertezas que pairam sobre a imagem da entidade nesse contexto. Helena e Renildo ainda não se pronunciaram publicamente sobre as suspeitas.
Conclusão: os desafios da ética no esporte e na política
O caso revela um intrincado sistema de relações entre política e futebol, mostrando que as nuances do financiamento e patrocínio se entrelaçam perigosamente com a legalidade. A operação da Polícia Federal em Roraima é mais um alerta sobre práticas que podem comprometer a integridade das eleições e do esporte no Brasil. O futuro próximo exigirá não apenas investigações rigorosas, mas também uma reflexão sobre os limites éticos e legais que devem ser respeitados no relacionamento entre instituições esportivas e atores políticos.