Os apicultores brasileiros, especialmente os do Piauí, enfrentam um momento desafiador após o anúncio recente de tarifas elevadas sobre as exportações de mel para os Estados Unidos. Em apenas 15 dias, mais de 152 toneladas de mel deixaram de ser comercializadas para o mercado norte-americano, resultando em um prejuízo estimado superior a R$ 2,5 milhões. Com essa crise, produtores estão sendo forçados a adiar a colheita e a buscar alternativas para manter seus negócios.
A situação dos produtores de mel no Piauí
O produtor rural José Claro de Sousa foi um dos afetados pela nova realidade imposta pelo tarifaço do presidente Donald Trump, que anunciou uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras. Ontem, ele migrou mais de 600 enxames do Piauí para o Maranhão na tentativa de escapar da seca que afetou a produção de mel. Contudo, a queda nos preços do produto tem sido alarmante. José conta que, em vez de receber o preço habitual de R$ 18,50 o quilo, ele se deparou com ofertas de compra a apenas R$ 15, o que o leva a adiar a colheita, que deveria ocorrer entre os dias 5 e 10 de agosto.
Os impactos do tarifaço de Trump
A introdução da tarifa tem gerado incertezas no mercado de mel, e embora o cancelamento de embarques tenha sido significativo, os contratos com os importadores permanecem ativos. O empresário Samuel Araújo, principal exportador de mel do Brasil através do Grupo Sama, explica que os Estados Unidos consomem cerca de 75% do mel exportado pelo Brasil. Ele também destaca que a maioria dos fornecedores de mel no Brasil é composta por pequenos produtores da agricultura familiar, que representam cerca de 85% dessa cadeia produtiva.
Novo horizonte: alternativas de exportação
Diante dos desafios impostos pelo mercado americano, o Grupo Sama está buscando diversificar seus mercados. Além dos Estados Unidos, o grupo tem se articulado para aumentar sua presença na Europa, mirando países como Alemanha, Holanda, Bélgica e Dinamarca, além de Canadá, Japão, China e Emirados Árabes. Araújo ressalta a qualidade do mel brasileiro, que é produzido de maneira sustentável e já possui reconhecimento internacional. “Estamos ampliando nosso alcance e considerando novas estratégias para superar a suspensão temporária de pedidos dos EUA”, afirmou.
A qualidade do mel produzido no Piauí
O Piauí se destacou nos últimos anos pela produção de mel de alta qualidade, especialmente o mel orgânico certificado. Em 2024, embora não tenha sido o maior produtor do país, o estado liderou o ranking brasileiro de exportação de mel para os Estados Unidos. A relação entre Piauí e o mercado americano é muito forte, com cerca de 85% das exportações de mel do estado tendo como destino os EUA, mesmo sendo o 22º estado em exportações gerais para o país, conforme aponta Islano Marques, gestor da Área Internacional e Mercado da Fiepi.
O futuro do setor apícola
As recentes tarifas tanto criam um cenário desafiador quanto uma oportunidade para repensar as estratégias de negócios dos apicultores. Com a necessidade de reestruturar a logística e formar parcerias com países que oferecem maior estabilidade regulatória, os produtores podem encontrar novas oportunidades fora do mercado americano. O momento e a necessidade de inovação e diversificação no setor se tornam essenciais para garantir a sobrevivência e o crescimento dos negócios.
Em suma, o tarifaço de Trump tudo indica que é um alerta para os apicultores brasileiros. Eles terão que se adaptar rapidamente a novas condições de mercado e talvez até rever seus preços e estratégias de exportação. Apenas o tempo dirá como as relações comerciais se desenvolverão, mas, por enquanto, o cenário é de cautela e adaptação.