Na última terça-feira, 29 de julho, o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, inaugurou a reunião do Conselho Mundial das Religiões pela Paz, realizada em Istambul. Com representantes de diversas religiões presentes, ele enfatizou a relevância do diálogo inter-religioso, especialmente em um mundo dominado pela economia e pela tecnologia. Para Bartolomeu, o ser humano carrega em si a dignidade de Deus e não deve ser considerado apenas “um número no balanço de um credor invisível”.
O materialismo e seus desafios
No discurso de abertura, o Patriarca ressaltou que vivemos em uma era marcada por um “materialismo predominante”, que reduz a prosperidade humana à sua dimensão material, deixando de lado a espiritualidade e o sagrado. “Este é um dos problemas fundamentais enfrentados pelas religiões hoje”, destacou Bartolomeu. O encontro de diferentes tradições religiosas, segundo ele, é uma condição necessária para tratar da falta de sentido que permeia a sociedade contemporânea.
O diálogo inter-religioso é visto como uma oportunidade para formular uma narrativa que aborde valores como amor, compaixão e misericórdia de maneira ativa, em vez de meras abstracções morais. Bartolomeu I propõe que as religiões unam seus esforços não para formar uma nova religião mundial, mas para criar uma aliança global de consciência, capaz de iluminar um caminho de esperança e solidariedade.
A paz como uma realidade dinâmica
Durante sua fala, Bartolomeu também definiu a paz como “uma realidade dinâmica e escatológica”, referindo-se à expectativa de uma reconciliação final de todas as coisas em Cristo. Ele enfatizou que o testemunho cristão deve oferecer uma perspectiva que não se baseia em dominar, mas em servir, refletindo uma imagem de Deus como comunhão e amor.
A visão de uma “sacralidade comum do mundo”, proposta pelo Patriarca, tem como objetivo unir diversas crenças em um propósito maior, proporcionando um campo de consenso que desafia a dominação do materialismo. Ele alertou que a perda da conexão com o sagrado resulta em sérias consequências existenciais e sociais, promovendo uma visão distorcida da integridade humana, que, por sua vez, alimenta o isolamento e a exploração ambiental.
Uma economia sem moral
Ao abordar o tema da crise global da dívida, Bartolomeu apontou que esta é uma manifestação clara de uma economia sem fundamento moral. “Populações inteiras são escravizadas por um mecanismo que prevê injustiças estruturais e sistemas de crédito exploratórios”, advertiu. Segundo ele, essa visão materialista reduz os seres humanos a números em um sistema financeiro que ignora sua dignidade e humano.
O Patriarca também fez uma forte crítica à ascensão da Inteligência Artificial, que ele chamou de “fantasma digital”. Para Bartolomeu, a IA representa uma desconexão entre a razão humana e a consciência, levantando questões éticas urgentes. Ele argumentou que tanto a crise da dívida quanto a Inteligência Artificial compartilham uma raiz filosófica comum: a priorização da abstração e da utilidade em detrimento dos valores humanos fundamentais.
Uma chamada à ação
Ao concluir sua intervenção, Bartolomeu I pediu uma reflexão profunda sobre os valores que fundamentam nossas ações e decisões, tanto em contextos espirituais quanto econômicos. Ele desafiou os líderes religiosos e a sociedade civil a se unirem em uma frente contra a desumanização que resulta da perda de conexão com o sagrado e da primazia do materialismo.
A reunião do Conselho Mundial das Religiões pela Paz é, portanto, um espaço vital para iniciar essas conversas e direcionar esforços conjuntos para um futuro em que a dignidade humana seja respeitada, e a solidariedade prevaleça. O convite de Bartolomeu para uma aliança global de consciência propõe um caminho de esperança, em um tempo em que a humanidade enfrenta tantos desafios complexos.
Com a participação de cerca de sessenta representantes de todo o mundo, o evento não apenas reforçou a importância do diálogo inter-religioso, mas também a urgente necessidade de uma nova visão que integre a espiritualidade e a ética em um mundo cada vez mais materialista e tecnológico.
Para mais informações, acesse o link da fonte.