Nos últimos anos, um novo fenômeno estético conhecido como “Ozempic face” tem chamado a atenção, relacionado ao uso crescente de medicamentos para emagrecimento, como o Ozempic. Enquanto muitos celebram a perda de peso proporcionada por esses tratamentos, alguns pacientes reportam efeitos colaterais indesejados, como a perda de volume facial e uma aparência mais envelhecida.
A experiência de Dr. Paul Jarrod Frank
Dr. Paul Jarrod Frank, renomado dermatologista estético em Nova York, começou a notar uma mudança no perfil de seus pacientes há cerca de dois anos. Com o aumento do uso de medicamentos como Ozempic, ele observou um “aumento dramático” no número de clientes reclamando de efeitos colaterais relacionados à estética. “Embora se sentissem muito melhores com a perda de peso, de certa forma, se sentiam mais velhos”, informou Frank.
Ele cunhou o termo “Ozempic face” para descrever o aspecto de pele flácida e a aparência encovada que muitas vezes acompanha a perda de peso significativa. Isso se torna especialmente evidente em pessoas acima dos 40 anos que perdem mais de 10 quilos. “Certamente, quem perde 20 ou 30 quilos ou mais enfrenta esse problema”, afirmou.
O impacto da perda de peso
Medicamentos como o semaglutida, presente no Ozempic, atuam estimulando a produção de insulina e reduzindo o apetite, situações que podem resultar em alterações significativas na gordura subcutânea, levando ao que Frank define como “Ozempic face”. O fenômeno se intensifica especialmente em pacientes mais velhos, cuja pele não possui a mesma elasticidade dos mais jovens.
Embora a FDA tenha aprovado o Ozempic para tratar diabetes tipo 2, a prescrição off-label para controle de peso tornou-se comum. Em 2024, cerca de um em cada oito adultos nos EUA utilizou alguma droga GLP-1, sendo que 40% dessas prescrições foram obtidas exclusivamente para emagrecimento. Muitos pacientes, após alcançar o peso desejado, buscam tratamentos estéticos para restaurar o volume facial perdido.
Intervenções estéticas em alta
Atualmente, mais de 20% dos pacientes de Frank utilizam GLP-1s em seus “regimes de longevidade”. Os tratamentos procurados após a perda de peso incluem preenchimentos injetáveis e facelifts. Frank observa que as intervenções cirúrgicas são frequentemente necessárias, mas muitos podem obter melhorias significativas apenas com doses aumentadas de preenchimentos.
Dados da American Society of Plastic Surgeons (ASPS) indicam que 40% dos membros que atendem pacientes em uso de GLP-1 consideram realizar intervenções cirúrgicas estéticas. Uma dessas pacientes é Kimberly Bongiorno, que experimentou uma grande perda de peso após iniciar o uso do Wegovy, mas enfrentou preocupações sobre sua aparência após a perda de peso. “Eu não sentia que tinha maçãs do rosto e tinha muita pele solta sob o pescoço”, disse.
A cirurgia plástica resultou em uma mudança significativa para Bongiorno. Ela passou por um facelift profundo, que levantou a pele e reposicionou músculos e tecidos conectivos, além de uma elevação do pescoço. “Antes, eu provavelmente parecia mais velha do que realmente sou. Agora, as pessoas pensam que estou na casa dos 40 anos”, contou.
Explorando o futuro das cirurgias estéticas
O número de facelifts nos EUA aumentou 8% entre 2022 e 2023. Além disso, o uso de preenchimentos de ácido hialurônico dobrou, passando de 2,6 milhões de pessoas em 2017 para mais de 5,2 milhões em 2023. Apesar desses aumentos, ainda não se pode atribuir esses números exclusivamente à utilização de drogas GLP-1, pois a demanda continua por procedimentos tradicionais como a lipoaspiração.
Os especialistas estão preocupados com o fenômeno do “rebound” de Ozempic, onde os pacientes voltam a ganhar peso após interromper o uso das medicações. Um estudo recente apontou que muitos que utilizam drogas para emagrecimento descontinuam o uso após um ano, retornando, frequentemente, ao peso original em menos de dez meses. Este aspecto diz respeito à necessidade de uma abordagem mais abrangente em relação à perda de peso.
Para que as cirurgias estéticas sejam eficazes a longo prazo, médicos e cirurgiões plásticos afirmam que os pacientes precisam de orientações para alcançar um estilo de vida saudável, que envolva dieta e exercícios. Tratar apenas a aparência é insuficiente se os problemas subjacentes não forem abordados.
Portanto, embora o “Ozempic face” represente um novo desafio no campo da estética, também destaca a importância de um acompanhamento mais atento e holístico no tratamento de pacientes que buscam emagrecer com segurança e manter resultados duradouros.