Uma disputa pelo mercado de veículos no Brasil cresce entre as principais montadoras atuantes no país, com destaque para a fabricante chinesa BYD, que vem ampliando sua presença, e as tradicionais empresas Toyota, General Motors, Volkswagen e Stellantis. A discussão envolve benefícios fiscais e tarifas de importação de carros elétricos e híbridos.
Montadoras pressionam governo contra redução de tarifas
Na última semana, representadas pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as montadoras enviaram uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alegando que alterações nas tarifas de importação podem prejudicar investimentos e empregos na indústria brasileira. Segundo elas, a proposta de redução temporária de tarifas para veículos elétricos e híbridos desmontados ameaça o modelo de fortalecimento da produção nacional.
Importação de veículos desmontados divide opiniões
O texto da carta afirma que a importação de conjuntos de partes de veículos não representa uma etapa de transição, mas um padrão que tende a se consolidar, prejudicando o processo produtivo local. “Esse ciclo virtuoso de fortalecimento da indústria nacional será colocado em risco se for aprovado o incentivo à importação de veículos desmontados para serem acabados no Brasil”, destaca a carta, divulgada pelo presidente da Volkswagem, Ciro Possobom, em redes sociais. Leia a carta na íntegra.
As empresas defendem que o Brasil planeja investir cerca de R$ 180 bilhões nos próximos anos, e alertam que uma eventual flexibilização nas tarifas afetaria esse ciclo de crescimento, além de colocar em risco empregos e a competitividade da indústria local. A posição contrária dos fabricantes tradicionais reflete preocupação com a perda de protagonismo diante da chegada de novos players, como a BYD.
Reunião da Camex discute os pleitos das montadoras
O Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligado ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), realiza uma reunião extraordinária nesta quarta-feira (30) para analisar os pedidos das montadoras. Enquanto as tradicionais buscam antecipar, para 2026, o aumento das tarifas sobre veículos elétricos desmontados, a BYD solicita a redução temporária do imposto, alegando necessidade de tempo para nacionalizar sua produção no Brasil.
Posição da BYD e argumentos na discussão
Segundo a fabricante chinesa, a redução temporária de impostos é razoável, uma vez que veículos totalmente importados têm a mesma tributação que os montados no Brasil. “Isso não é novidade, pois outras montadoras adotaram prática semelhante antes de produzir localmente”, afirmou a BYD. A companhia também destaca que sua fábrica em Camaçari (BA) está em fase final de obras, prevista para ser concluída em menos de um ano e meio.
Estratégia do governo para o setor
Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, explicou que o governo tem negociado uma fase de transição na qual as tarifas de importação de veículos elétricos aumentarão gradualmente até alcançar 35%, o mesmo aplicável aos veículos de combustão. Ele ressaltou que muitas empresas estão investindo no país, mencionando a GWM em Indianópolis (SP) e a própria BYD em Camaçari.
O ministro destacou que uma proposta em análise é a ampliação de uma cota de isenção de impostos, com limites decrescentes ao longo de três anos, buscando dar tempo para a nacionalização da produção de veículos elétricos e híbridos. A decisão final deve ser tomada na próxima reunião da Camex, envolvendo diferentes ministérios.
Perspectivas para o mercado e inovação
Especialistas avaliam que a disputa reflete uma mudança estrutural no setor automotivo, em que a chegada de fabricantes como a BYD oferece modelos mais modernos e acessíveis ao consumidor brasileiro, impulsionando a transição para veículos elétricos. A pressão das montadoras tradicionais representa uma resistência ao avanço dessas novidades, temendo perda de mercado e protagonismo.
O cenário indica que o governo continuará equilibrando interesses, promovendo a fabricação local, mas também incentivando a entrada de novas empresas e tecnologias. A decisão sobre tarifas e incentivos será decisiva para o futuro da indústria automotiva brasileira, que vive um momento de transformação e disputa por protagonismo.