No recente programa Dando a Real da TV Brasil, a jornalista Milly Lacombe falou abertamente sobre sua experiência de machismo dentro do futebol e os desdobramentos de um evento polêmico que marcou sua carreira. Apresentado por Leandro Demori, o programa proporcionou um espaço para que Lacombe refletisse sobre os desafios enfrentados pelas mulheres no esporte.
A trajetória de Milly Lacombe no futebol
Milly Lacombe, ex-apresentadora da TV Globo, teve sua trajetória marcada por desafios. Um dos episódios mais controversos ocorreu em 2006, quando, durante uma transmissão ao vivo do programa Arena Sportv, fez um comentário sobre o goleiro Rogério Ceni, envolvendo uma acusação de falsificação de assinatura. Essa situação a colocou no centro de uma discussão acerca da presença feminina nos esportes e das expectativas que a sociedade impõe às profissionais do sexo feminino.
O impacto do machismo na carreira
Durante a entrevista, Milly compartilhou suas experiências sobre como os erros cometidos por mulheres são frequentemente amplificados. “Uma mulher, quando ela erra, ela erra pelo gênero. Então, eu não errei sozinha. Eu errei pra justificar o que o cara que fala: ‘Tá vendo, mulher não pode falar de futebol’”, comentou, evidenciando a pressão que as jornalistas mulheres enfrentam na indústria esportiva.
Ela admitiu que, após o erro, sentiu que havia fechado portas para outras mulheres que poderiam seguir seu caminho. “Demorou muito tempo até a Ana Thaís aparecer. E aquilo me incomodava demais, porque eu peguei aquilo pra mim. Eu errei, e agora as mulheres não vão mais. Eu fechei a porta, a porta que eu estava abrindo, eu fechei”, desabafou.
O reencontro com Ana Thaís
Outro momento marcante da entrevista foi o relato do reencontro de Milly com Ana Thaís, uma das pioneiras na cobertura de esportes na TV brasileira. Elas se abraçaram, e Milly expressou seu desconforto em relação ao que ocorreu em sua carreira. “Cara, desculpa, eu achei que não ia pintar alguém como você”, disse Lacombe, demonstrando apoio à colega e a importância de se reconhecer o talento feminino no esporte.
Erro e aprendizado
Milly destacou que, embora o machismo tenha afetado sua experiência, é fundamental assumir a responsabilidade por seus erros. “Se eu usar o meu erro, se eu tentar usar o machismo pra explicar o meu erro, eu vou estar dando uma desculpa pro meu erro. É claro que teve o machismo na reação ao meu erro”, reconheceu. Ela enfatizou que aprender com os erros é essencial para o crescimento pessoal e profissional.
“O erro original é meu, se eu não me aproprio dele, eu não vou pra lugar nenhum”, concluiu a jornalista, refletindo sobre a importância de assumir a responsabilidade e seguir em frente, apesar das dificuldades impostas pelo machismo e preconceito.
A polêmica com Rogério Ceni
O incidente que levou à sua má fama ocorreu quando Milly acusou Rogério Ceni de ter falsificado uma assinatura em uma proposta do Arsenal, que, segundo ela, visava conseguir um aumento salarial. Ceni não hesitou em desmentir as alegações ao vivo, iniciando uma discussão acalorada. Essa polêmica trouxe à tona não apenas a confrontação entre jornalista e atleta, mas também a percepção de como as vozes das mulheres são tratadas em situações de conflito.
Desde então, a trajetória de Milly Lacombe se transformou significativamente, levando-a a se tornar uma referência na luta por espaço e reconhecimento da mulher no esporte. Suas declarações no programa Dando a Real revelam como a experiência a moldou, influenciando gerações futuras de jornalistas e esportistas.
O relato de Milly Lacombe serve como um convite à reflexão sobre a necessidade de promover um ambiente mais inclusivo e justo no mundo esportivo e na mídia, garantindo que todas as vozes, independentemente do gênero, sejam ouvidas e respeitadas.
Em um cenário onde o machismo ainda prevalece, é fundamental que histórias como a de Milly inspiram outras mulheres a enfrentar desafios e reivindicar seus espaços, mostrando que a paixão pelo esporte é, de fato, universal.