Parlamentares devem retornar a Brasília na próxima semana com pires nas mãos e, consequentemente, menos dispostos a ajudar o Planalto. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) arrochou a torneira do pagamento de emendas parlamentares nos últimos nove dias, contrastando com o afago dado no contexto da batalha pelo Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), quando chegou a liberar R$ 2 bilhões em dois dias.
A redução nos repasses
Levantamento do Metrópoles, com dados do Siga Brasil, indica que o Executivo liberou em média R$ 46,1 milhões diariamente desde o dia 19 de julho, totalizando R$ 415 milhões nesse período. O número é bem inferior à média de R$ 99 milhões do governo Lula em legislaturas anteriores e menor até que a média de 2025, de R$ 63 milhões liberados diariamente.
Entre os dias 17 e 18 de maio, quando Lula derrotou o Congresso na disputa pelo IOF e dobrou a aposta, ao vetar o aumento do número de deputados, o Executivo pagou R$ 2,1 bilhões e indicou que as disputas políticas não iriam interferir no escoamento de recursos. No entanto, o governo tem feito liberações concentradas, que coincidem com momentos de tensão no Congresso.
Liberações concentradas e demandas do Legislativo
A penúltima semana de junho, por exemplo, era a maior de 2025, até então, em número de recursos liberados, com pagamento de R$ 1,6 bilhão. Foi justamente quando Câmara e Senado se juntaram para derrubar, de surpresa, o reajuste do IOF. Neste ano, a execução de um montante semelhante num intervalo tão curto só ocorreu antes do Carnaval, quando Lula buscava acordo na votação do Orçamento.
Em 2025, o governo Lula pagou R$ 12,9 bilhões em emendas, sendo que 38,7% desse montante foi pago somente em seis datas. Essa concentração de recursos em datas específicas levanta questões sobre a estratégia do governo e a relação com os parlamentares.
O futuro das relações entre o governo e o Congresso
O Legislativo retomará as atividades na próxima semana sem sinais claros de como reagirá às recentes ações do Planalto. Além de acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) e conseguir o retorno do reajuste do IOF, Lula vetou o aumento do número de deputados, o que gerou descontentamento.
A base governista se preocupa com o andamento de propostas de interesse do Planalto. O projeto de isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, por exemplo, é um dos que estão previstos para votação no retorno do recesso.
Tensões políticas e suas implicações
As tensões entre o governo e o Congresso podem afetar diretamente a aprovação de projetos importantes para a gestão Lula. Com a diminuição dos repasses de emendas, a disposição dos parlamentares em apoiar as demandas do governo está em cheque, e a expectativa é de que, nos próximos dias, essas relações sejam testadas.
Enquanto isso, o governo trata de buscar estratégias para reverter essa situação e evitar que um clima de hostilidade se instale entre o Palácio do Planalto e o Legislativo. A articulação política, portanto, será um elemento crucial para os próximos passos da gestão, especialmente com a aprovação de reformas desejadas e a manutenção do apoio político.
O desafio para Lula e sua equipe é encontrar um equilíbrio nas relações com os parlamentares, proporcionando recursos que mantenham os aliados satisfeitos, enquanto gerenciam o orçamento de forma eficaz.