Brasil, 30 de julho de 2025
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Estudo revela que pagamento incondicional a famílias não melhora desenvolvimento infantil

Após quatro anos, pagamento mensal de US$ 333 aos pais não mostrou impacto significativo no bem-estar das crianças, desafiante hipóteses tradicionais

Um estudo inovador nos Estados Unidos analisou o impacto de repasses mensais de US$ 333 às famílias de baixa renda e constatou que, após quatro anos, esses recursos não promoveram melhorias no desenvolvimento infantil. Os resultados surpreenderam os pesquisadores e podem alterar o debate sobre programas de renda garantida.

Impacto limitado dos pagamentos na criança

O experimento, conduzido por pesquisadores das universidades da Califórnia, Wisconsin e Columbia, recrutou 1.000 mães de baixa renda em cidades como Nova York e Minneapolis. Durante quatro anos, um grupo recebeu o valor mencionado, enquanto outro recebeu apenas US$ 20 mensais. Os resultados apontaram que as crianças beneficiadas não apresentaram avanços relevantes em linguagem, habilidades cognitivas ou comportamentais, nem atividade cerebral relacionada ao desenvolvimento cognitivo.

Esforços assistenciais e críticas conservadoras

O estudo, considerado rigoroso por seu desenho científico — um experimento controlado aleatório — reforça a ideia de que dinheiro, por si só, não resolve questões de desenvolvimento infantil. “Fiquei muito surpreso — todos nós ficamos”, afirmou Greg Duncan, um dos principais pesquisadores. Apesar de o valor ter aumentado o envolvimento das mães com atividades educativas, os efeitos a longo prazo ainda são incertos.

Os resultados desafiam argumentos a favor de o auxílio financeiro ser uma solução rápida para reduzir as desigualdades cedo na vida, especialmente evidenciado pela ausência de melhora na atividade cerebral e na saúde das crianças. Além disso, o estudo revelou que as mães não gastaram o dinheiro com álcool ou cigarro de forma significativa, e que a participação no mercado de trabalho não foi afetada.

Implicações para o debate sobre renda garantida

Embora os benefícios mensuráveis tenham sido limitados, o estudo reforça a dúvida sobre a efetividade de pagamentos incondicionais para melhorar o desenvolvimento infantil imediato. Para especialistas como Arloc Sherman, do Centro de Prioridades Orçamentárias, os resultados precisam ser considerados com cautela, pois a pandemia, que começou logo após o início da pesquisa, pode ter distorcido os efeitos esperados.

Além disso, críticos argumentam que o valor do auxílio foi baixo demais para gerar resultados relevantes. Segundo a professora Jane Waldfogel, o valor pago foi menos da metade das propostas pelos democratas em 2021, dificultando uma avaliação definitiva dos benefícios de uma renda de base universal.

Perspectivas futuras e limites do estudo

Os pesquisadores destacam que os efeitos positivos podem aparecer mais adiante, à medida que as crianças entram na escola. O estudo não avaliou benefícios não monetários, como vale-alimentação ou assistência médica, que podem ser determinantes na redução da pobreza intergeracional, especialmente em populações vulneráveis.

Segundo Katherine Magnuson, de Wisconsin-Madison, o padrão de resultados indica que a simples transferência de renda não é suficiente para transformar o futuro de crianças em situação de vulnerabilidade social. O experimento será acompanhado por mais dois anos, e futuras análises poderão esclarecer efeitos de longo prazo.

Reflexões e desafios para políticas públicas

Com os resultados publicados de forma discreta, o estudo reforça o desafio de formular políticas eficazes para o desenvolvimento infantil que vão além da transferência de recursos. Como afirma Michael Strain, do American Enterprise Institute, a complexidade das dificuldades enfrentadas por famílias pobres — como bairros perigosos e escolas ruins — não pode ser resolvida apenas com dinheiro.

Apesar dos resultados negativos na avaliação rigorosa, muitos especialistas defendem que programas de renda podem continuar a ter um papel importante, especialmente quando combinados a outras ações de suporte social. “Precisamos lidar com múltiplos fatores que afetam a vida das famílias”, diz Sherman, ao reforçar a necessidade de estratégias integradas.

Assim, o estudo apresenta uma reflexão importante para o futuro das políticas de combate à pobreza infantil, demonstrando que o simples repasse de valores em dinheiro pode não ser suficiente para garantir avanços no desenvolvimento das crianças mais vulneráveis.

Texto originalmente divulgado pela NPR e disponível em O Globo.

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