Desde que Donald Trump voltou à Casa Branca, sua política protecionista, que rompe com a ordem comercial global, vem sendo vista como uma vitória política. No entanto, do ponto de vista econômico, os efeitos dessa estratégia ainda são incertos e preocupam especialistas.
Impactos e controvérsias do tariffão de Trump
Economistas alertam para o risco de aumento de preços e menor fôlego na atividade econômica. Segundo Marta Castilho, coordenadora do grupo de indústria e competitividade do Instituto de Economia da UFRJ, um estudo recente de economistas americanos analisou os efeitos das tarifas iniciadas por Trump em seu primeiro mandato.
O estudo conclui que as tarifas não criaram empregos nos setores protegidos e, pelo contrário, áreas afetadas por retaliações, como a agricultura, perderam postos de trabalho. Apesar disso, as tarifas tiveram um ganho eleitoral, fortalecendo o apoio a Trump em regiões mais afetadas pela guerra comercial.
Reações e projeções para o Brasil
No Brasil, o impacto do tarifão dos EUA já pode ser observado na redução de preços de alimentos, como explica este artigo. Além disso, empresários americanos têm feito apelos por um recuo de Trump na aplicação dessas tarifas, temendo prejuízos financeiros.
Marta Castilho ressalta que a aplicação incerta das tarifas gera problemas de longo prazo para o Brasil, pois aumenta a incerteza nas decisões de investimento das empresas. “Se há essa dúvida, o empresário espera para investir”, afirma.
A estratégia protecionista e suas limitações
Luiz Carlos Prado, professor do Instituto de Economia da UFRJ, destaca que a postura de Trump rompe com a lógica do benefício mútuo que sustentou o comércio internacional desde a criação do Gatt, em 1947. “Ele tenta se beneficiar às custas dos demais, dificultando a estabilidade do sistema global”, avalia Prado.
Especialistas ainda apontam que os acordos comerciais firmados por Trump são frágeis, pois há uma alta probabilidade de renegociação ou rompimento, como mostram análises do The New York Times. Além disso, o impacto sobre o déficit comercial americano ainda é discutível, segundo estudiosos como Brad Setser, do Conselho de Relações Exteriores dos EUA.
Riscos e incertezas econômicas
Outro fator de preocupação é o aumento da inflação, que ainda não se materializou de forma expressiva por conta do atraso na implementação das tarifas e do uso de estoques pelas empresas. Alguns produtos, como carne, já têm apresentado aumento de preços devido a outros motivos, conforme aponta Marta Castilho.
Luiz Carlos Prado também critica a estratégia de Trump, dizendo que ela favorece relações assimétricas e desestabilizadoras, prejudicando a economia global. Segundo ele, o aumento do déficit orçamentário dos EUA além dos benefícios arrecadados pelas tarifas mostra a incoerência da estratégia.
Futuro incerto para o comércio internacional
Analistas alertam que os acordos de Trump podem cair rapidamente, uma vez que o presidente americano costuma ameaçar tarifas para renegociar e obter vantagens. O risco de deterioração do sistema comercial e de aumento de preços ao consumidor permanece alto, com efeitos ainda difíceis de prever.
Por ora, o governo brasileiro fará uma proposta aos EUA para que tarifas não afetem produtos como suco de laranja, café e Embraer, buscando proteger setores estratégicos. A estratégia de Trump, enquanto isso, coloca o futuro do comércio internacional em uma zona de incerteza.
Fonte: O Globo Economia