Carla Zambelli, deputada federal pelo PL-SP, foi presa ontem em Roma, na Itália, quase dois meses após deixar o Brasil para não cumprir uma sentença de dez anos de prisão determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A parlamentar estava foragida e, desde então, teve seu nome incluído na lista vermelha da Interpol, tornando-se procurada em 196 países. A Polícia Federal (PF) informou que as autoridades italianas têm até 48 horas para decidir o destino de Zambelli, que pode incluir a extraditação ao Brasil, a liberdade ou uma prisão domiciliar. A decisão será tomada em uma audiência, mas o processo de extradição pode ser demorado.
Os Crimes e o Processo Judicial
Carla Zambelli foi condenada por crimes de falsidade ideológica e invasão de dispositivo informático. Juntamente com o hacker Walter Delgatti, Zambelli invadiu o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inseriu informações falsas, incluindo um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. O ministro Moraes declarou que Zambelli tinha a “inequívoca” intenção de se furtar à aplicação da lei penal. A prisão da deputada resultou também na perda de seu mandato, que será analisada pela Câmara dos Deputados.
A captura de Zambelli a torna a 12ª parlamentar da Câmara a ser presa nos últimos 12 anos. A parlamentar se encontrava em um apartamento luxuoso em uma área residencial de Roma, que conta com jacuzzi e quadra de tênis, a cerca de cinco quilômetros da Praça São Pedro, no Vaticano. A PF confirmou que sua detenção foi fruto de uma cooperação policial internacional.
Primeiros Momentos Após a Prisão
De acordo com boletins, Zambelli estava acompanhada de seu pai no momento da detenção e não ofereceu resistência. A polícia italiana a localizou após algumas movimentações do pai em Roma. Apesar de seu advogado afirmar que a deputada se entregou, a versão da PF contradiz essa informação. Em um vídeo, Zambelli criticou Moraes e declarou sua intenção de buscar “justiça”, indicando que preferiria cumprir sua pena na Itália, um país que considera “justo e democrático”.
“Não vou voltar para o Brasil para cumprir pena. Se tiver que cumprir qualquer pena, será aqui na Itália. Estou confiante de que as autoridades perceberão que sou inocente e não ordenei a invasão do CNJ”, reforçou a deputada. Seu advogado, Fabio Pagnozzi, afirmou que Zambelli demonstra disposição em colaborar com as autoridades.
Expectativas em relação à Extradição
O embaixador do Brasil na Itália, Renato Mosca, expressou confiança de que a Justiça italiana acolherá o pedido de extradição, embora tenha alertado que o processo pode levar meses. Ele mencionou que a Justiça italiana pode levar até seis meses para se pronunciar sobre a extradição, mas isso só voltará a funcionar após o período de férias de verão na Europa, que se estende até setembro.
Linhas do Tempo dos Acontecimentos
- 16 de maio: O STF condena Zambelli e Delgatti a dez anos de prisão por invasão aos sistemas do CNJ.
- 4 de junho: Moraes decreta a prisão preventiva da deputada.
- 5 de junho: Zambelli usa passaporte italiano ao desembarcar em Roma.
- 11 de junho: Moraes solicita formalmente a extradição de Zambelli ao Ministério da Justiça.
- 26 de julho: Zambelli publica um vídeo se definindo como “exilada política” na Itália.
Além das condenações por invasão ao CNJ, Zambelli enfrenta outra ação penal por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal. O julgamento deste segundo caso começou em março, e há indícios de que ela possa ser condenada a mais cinco anos e três meses de prisão, além da possível cassação do mandato.
Analistas jurídicos indicam que, por já estar condenada, a Câmara dos Deputados não precisará votar sobre a prisão, já que se trata de um caso de condenação definitiva de mérito, e não de prisão preventiva. Mesmo assim, o assunto continua a ser debatido intensamente na mídia e entre especialistas de direito.
Com tantos desdobramentos, a situação de Carla Zambelli permanece incerta, refletindo um momento turbulento na política brasileira.
