Integrantes da comitiva de senadores brasileiros que visitou Washington nesta semana alertaram sobre as possíveis implicações das relações comerciais do Brasil com a Rússia diante das tensões com os Estados Unidos. Segundo eles, parlamentares americanos manifestaram preocupações relacionadas à compra de óleo e fertilizantes russos pelo Brasil, em meio às sanções impostas à Rússia por sua participação no conflito na Ucrânia.
Preocupação dos EUA com a relação Brasil-Rússia
Durante encontros nos EUA, os senadores brasileiros ouviram que a relação com a Rússia, rival dos Estados Unidos, é vista como uma das causas do desgaste nas relações comerciais entre Brasil e Washington. O Brasil mantém um fluxo intenso de importação de óleo e fertilizantes russos, essenciais para o agronegócio e o setor agrícola nacional.
Tarifa de 50% e a influência do Congresso americano
No início de julho, o presidente Donald Trump enviou uma carta ao presidente Luís Inácio Lula da Silva, informando que aplicaria uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. A medida estaria vinculada à atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) na condução de ações envolvendo a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe.
Debates no Congresso dos EUA sobre compras da Rússia
A senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura e representante da bancada ruralista, afirmou que o assunto é delicado para os congressistas americanos. Ela revelou que há uma articulação para aprovar uma lei que puni com tarifas de até 500% quem adquirir petróleo, gás e urânio da Rússia. Segundo ela, essa questão será incluída no relatório que os senadores brasileiros elaborarão sobre a viagem aos EUA.
Perspectivas e impacto na política brasileira
Para a senadora, a preocupação dos americanos com a compra de fertilizantes e óleo da Rússia é uma questão sensível, também apoiada pela iniciativa privada. Ela destacou que a parlamentaridade deve tratar do tema no relatório de retorno ao Brasil, levando em conta as discussões internas e externas.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), avaliou como improvável o corte completo do fluxo comercial do Brasil com a Rússia. Ele explicou que, devido à dependência do setor agrícola e de fertilizantes, o Brasil precisa manter suas importações, pois a demanda global é alta e as reservas estão escassas.
Possibilidade de encontro bilateral Lula-Trump
Wagner também mencionou que uma eventual reunião entre o presidente Lula e Donald Trump poderia ajudar a debater a relação com a Rússia. No entanto, afirmou que a questão do Judiciário brasileiro não deve ser pauta de um encontro bilateral, reforçando a independência do sistema judicial em seu país.
Resultado da visita e próximos passos
O senador Nelsinho Trad (PSD-MS), que liderou o grupo, avaliou a missão como produtiva. Ele destacou que o objetivo foi estabelecer canais de diálogo com parlamentares americanos, reforçando a necessidade de manter o relacionamento e de evitar tensões desnecessárias nas negociações comerciais.
O senador Carlos Viana (Podemos-MG) reforçou que os congressistas americanos demonstraram apoio ao comércio brasileiro e evitar tarifas que possam prejudicar setores estratégicos, como café e grãos, com dependência dos Estados Unidos.
O grupo de senadores retornará ao Brasil, levando no relatório o posicionamento dos EUA sobre a relação com a Rússia e as preocupações com as sanções. A audiência revelou a complexidade do cenário internacional e o delicado equilíbrio com os interesses econômicos do Brasil.