Escolher o time de coração é um processo que começa na infância, influenciado por relações familiares, escolares e de amizade. No entanto, a paixão que se forma nessa fase pode se desvanecer com o tempo, especialmente se o clube não entrega resultados e títulos. Uma recente pesquisa realizada pela O GLOBO em parceria com a Ipsos-Ipec traz à tona esses desafios, apresentando um panorama das torcidas dos cinco maiores clubes do Brasil e suas variações por idade.
O perfil das torcidas no Brasil
De acordo com os dados da pesquisa, o Vasco da Gama se destaca pela alta proporção de torcedores acima de 45 anos, que representam 47% de sua torcida total. Em contraste, as faixas etárias mais jovens, entre 16 e 34 anos, somam apenas 31%. Esse cenário tem origem em um histórico recente de dificuldades enfrentadas pelo clube, incluindo rebaixamentos e uma escassez de títulos. O último grande triunfo do Vasco foi em 2011, quando conquistou a Copa do Brasil. Desde então, o clube passou por mais três rebaixamentos e crises administrativas que minaram as esperanças de uma nova geração de torcedores.
A análise dos especialistas
Leda Maria da Costa, pesquisadora do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte da UERJ, analisa que o Vasco, que já teve uma torcida vibrante nas décadas de 1940 a 2000, falha em criar novos aficionados. “A torcida do Vasco não consegue nutrir esperanças de que o clube se tornará vencedor novamente”, afirma. Essa crença na capacidade do clube de vencer é crucial para a formação de novos torcedores.
O Palmeiras, por sua vez, apresenta um paradoxo interessante. Apesar de ter conquistado uma série de títulos nos últimos anos, sua base de torcedores mais jovens é a menor entre os cinco principais clubes, com apenas 29%. Isso reflete o legado de vitórias das décadas de 1970 e 1990, porém ainda não se traduziu em uma renovação significativa entre os fãs mais jovens.
O Flamengo e a estratégia de renovação
Do outro lado do espectro, o Flamengo tem se destacado como um modelo de sucesso na retenção de torcedores jovens, tendo 47% de sua torcida composta por faixas etárias mais jovens. A pesquisa mostrou que 29,4% dos entrevistados de 16 a 24 anos se identificam como rubro-negros, um percentual que cresce em relação ao levantamento do ano anterior.
Ricardo Hinrichsen, vice-presidente de Marketing do Flamengo, destaca a importância de manter essa juventude conectada ao clube ao longo da vida. “Nosso objetivo é aumentar o percentual de torcedores jovens de 18% a 21% para 30% ou mais”, afirma. Para isso, o clube está implementando estratégias inovadoras, como parcerias com plataformas de e-Sports e renovação da comunicação com os torcedores através da Flamengo TV.
O papel dos clubes paulistas
Os clubes paulistas, como o Corinthians e o São Paulo, apresentam cenários diferentes. O Corinthians, conhecido por sua base de torcedores intergeracional, apresenta porcentagens semelhantes em todas as faixas etárias, com uma leve tendência de atrair juventude. O São Paulo, por outro lado, possui uma base de torcedores mais concentrada entre 25 e 44 anos, resultado de suas eras vitoriosas nos anos 1990 e 2000.
Considerações finais
A pesquisa realizada entre 5 e 9 de junho de 2025, com 2.000 entrevistados em 132 municípios brasileiros, aponta para uma necessidade urgente de clubes se adaptarem às novas demandas e expectativas das gerações que seguem. O desafio de reter torcedores jovens é premente e os clubes que não se prepararem correm o risco de ver suas torcidas envelhecerem sem a renovação necessária para garantir seu futuro.
Com uma margem de erro estimada de 2,2 pontos percentuais e um nível de confiança de 95%, a pesquisa evidencia o panorama atual das torcidas no Brasil, com importantes implicações para a estratégia e o marketing dos clubes na próxima década.
Este conteúdo foi produzido com base em dados coletados e pesquisas recentes para entender como os clubes estão enfrentando os desafios de renovação de suas torcidas.