Brasil, 29 de julho de 2025
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Tarifa de Trump impacta preços de alimentos no Brasil

A ameaça de tarifas de Trump sobre produtos brasileiros já reflete na alta do café e na queda de carnes e frutas no mercado interno



Tarifa de Trump impacta preços de alimentos no Brasil


As notícias sobre a possibilidade de o governo americano aplicar tarifas de importação de 50% sobre produtos brasileiros começam a se refletir nos preços de alimentos no Brasil. Países como o Brasil, principal exportador de carnes, café, frutas e sucos de laranja para os EUA, já sentem os efeitos dessas medidas, com movimentos de alta no café e recuo nos preços de carnes e frutas no atacado.

Efeitos das tarifas de Trump na exportação brasileira

Analistas econômicos alertam que, embora ainda não seja possível afirmar que a inflação no Brasil seja consequência direta das tarifas, há uma forte associação. No caso do café, por exemplo, os preços têm se acelerado em Nova York e já começam a subir também aqui, revertendo uma tendência de baixa que vinha ocorrendo nas últimas semanas, segundo especialistas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

Mercado da carne e impacto das tarifas

As carnes bovinas vinham apresentando uma queda entre março e junho, após alta de quase 21% no ano passado. De 24 de junho a 21 de julho, o recuo na carne no atacado foi de 7,8%, com a arroba do boi gordo tendo uma redução semelhante de 7,5% no período. Segundo o pesquisador Thiago Bernardino de Carvalho, do Cepea, a maior oferta doméstica, aliada à redução na exportação devido às tarifas, intensifica essa baixada de preços.

Thiago explica ainda que empresas como a JBS, maior produtora de carne do mundo, possuem unidades na Austrália, e a Minerva, segunda maior do setor, tem fábricas na Argentina, Uruguai e Colômbia, possibilitando redirecionar os estoques para o mercado interno dos EUA e manter a produção de carne aqui no Brasil voltada ao consumo local.

Reações do setor agropecuário

O movimento sazonal de abate de gado por conta do inverno, aliado às incertezas com as tarifas, mantém as cotações em baixa. Segundo o economista Fábio Romão, da LCA 4Intelligence, a arroba de boi gordo vem caindo há três semanas nas praças de São Paulo, referência para o mercado brasileiro, e a expectativa é de que essa tendência continue se fortalecer.

Assim como na carne, produtores de frutas, especialmente do Vale do São Francisco, que produz mais de 90% das mangas e uvas destinadas à exportação, já enfrentam redução de preços. Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados, aponta que a manga tommy, por exemplo, negociada a R$ 1,50 o quilo na segunda semana de julho, já pode cair para R$ 0,30 se a exportação de 48 mil toneladas nos próximos meses for realocada para o mercado interno.

Impacto na inflação e no consumidor brasileiro

Nos supermercados, o consumidor percebe uma leve redução nos preços de alguns itens, mas ainda sente o peso de produtos considerados caros, como a carne vermelha. Pesquisa do Cepea indica que a carne, apesar de uma recente queda, ainda mantém preços elevados, e há quem defenda que os alimentos não deveriam ficar sujeitos à tarifação.

O café, por sua vez, apresenta efeito inverso: a cotação do grão subiu em Nova York em 6,8% entre 14 e 17 de julho, antecipando a alta devido às tarifas. No Brasil, a alta no preço do produto é a principal responsável pela inflação do setor, que atingiu 80,20% no IPCA de fevereiro a fevereiro. Segundo especialistas, mesmo com a alta, o Brasil permanece como um player fundamental para o mercado mundial de café, concentrando 30% das exportações globais, e dificilmente perderá essa condição a curto prazo.

Perspectivas futuras

Apesar da desaceleração dos aumentos recentes, analistas apontam que a tarifa deve manter influências no mercado durante os próximos meses, com impacto esperado tanto no varejo quanto na produção agrícola. Segundo Fábio Romão, o impacto deve chegar ao consumidor final entre agosto e setembro, embora a magnitude da redução de preços ainda seja incerta.

Especialistas como José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da MB Agro, destacam que mudanças rápidas no mercado de café são difíceis, pois o Brasil responde por uma parcela significativa das exportações globais e muitas marcas americanas têm blends com produto brasileiro, o que torna a substituição complexa.

O setor de carne também enfrenta desafios. Sérgio Capucci, vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul, observa que os frigoríficos tiveram uma produção relativamente estável após o anúncio das tarifas, pois desviaram parte da oferta para mercados como Chile, China e Oriente Médio, minimizando o impacto no preço ao consumidor brasileiro.

Para o consumidor comum, como Maurício Vicente, de 70 anos, que circulava com seu carrinho de diversas carnes na semana passada, as mudanças ainda parecem pequenas. “A carne vermelha continua muito cara. Não parece que a nova tarifa tenha feito efeito no mercado. Mas, se ajudar a reduzir os preços, será muito bem-vinda.”

Na avaliação do setor agrícola, as dificuldades com as tarifas podem afetar a fruticultura do Brasil, especialmente com a previsão de aumento de oferta de frutas no mercado doméstico e a possibilidade de redução de preços, o que pode gerar prejuízos aos produtores, como aponta Guilherme Coelho.

Mais do que uma questão comercial, a conflito tarifário entre Brasil e EUA revela-se como um esforço de ambos os lados para defender interesses nacionais, num contexto de tensões que parecem ainda longe de uma solução definitiva.

Para mais detalhes sobre o impacto das tarifas de Trump na economia brasileira, acesse este artigo no Globo.


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